Título: Lula assume negociação direta com PL e PSB
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2005, Nacional, p. A7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu ontem no Palácio do Planalto os dirigentes do PL e do PSB, a exemplo do que fizera com o PTB, na semana passada, na tentativa de recompor sua base partidária e parlamentar. O PL e o PTB têm 48 deputados cada; o PSB, 16. Esses três partidos são importantes para a governabilidade, mas, desde a eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara, também passam por um processo anárquico, em que os liderados não obedecem mais aos líderes.

No encontro, dirigentes de PSB e PL repetiram a fala dos líderes do PTB, na semana passada. Eles reclamaram dos problemas de falta de coordenação política dentro do governo e da necessidade de reabertura de um canal político entre o Congresso e Palácio do Planalto.

Os dirigentes culpam tanto o PT como o governo pela situação desconfortável. O PT, por ter lançado um candidato dissidente à presidência da Câmara - o mineiro Virgílio Guimarães -, dando início ao processo de desordem partidária. O governo, por não ter ouvido os aliados quando necessário e por ter anunciado uma reforma ministerial que não foi capaz de fazer.

"É preciso rearrumar tudo, fazer a rearrumação política", cobrou o líder do PL, deputado Sandro Mabel (GO).

"Nós, como o PTB e o PSB, queremos ser ouvidos a respeito das decisões tomadas pelo governo", afirmou o deputado goiano. Ele quer, também, um melhor tratamento por parte do partido do presidente Lula. "Um dos problemas na eleição da Câmara foi causado pelo PT, que não ouviu os partidos aliados", acusa Mabel.

TRANSPORTES

Na conversa com o presidente Lula, Mabel lembrou que o PL não criou caso na reforma ministerial. Mas agora ele quer que o Ministério dos Transportes, quinhão do partido na equipe de Lula, seja bem tratado. "Não dá para assistir a essa história de corte de verbas. Os Transportes têm de andar, porque as estradas estão no caos absoluto."

O líder comunicou ao presidente que, do jeito como está, a Medida Provisória 232 não passa na Câmara. A MP reajusta em 10% a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), mas aumenta os impostos para as empresas prestadoras de serviço.

Já o líder do PSB, Renato Casagrande (ES), também recebido ontem por Lula, disse que o governo tem a necessidade de trabalhar para a rearticulação política de sua base. "É preciso que os partidos da base sejam tratados com maior deferência. É preciso que as relações entre todos eles e com o governo sejam claras. Não dá para continuar do jeito que está."

Para Casagrande, desde a eleição de Severino, o Palácio do Planalto deixou de ouvir os aliados. "A base não é só o PT; tem os outros partidos também."

Num esforço para rearrumar a base aliada, o novo líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse ontem que vai trabalhar para construir a unidade de todos os integrantes do governo. Prometeu ainda ouvir mais os deputados, para evitar derrotas do governo em votações importantes.

"A minha tarefa imediata é saber o que a base está querendo, o que os líderes estão pensando e o que estão propondo. Eu quero construir isso com os líderes da base aliada e aí reconstruir a unidade", prometeu Chinaglia.