Título: Presidente ajuda a aproximar Chávez e Uribe
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2005, Nacional, p. A7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca hoje em Ciudad Guayana, na Venezuela, para testemunhar o fim do contencioso entre seu companheiro venezuelano, Hugo Chávez, e o colombiano Álvaro Uribe. Em um evento carregado de valor simbólico, Lula e Chávez deverão disparar a mensagem - a Washington, em especial - de que os países da América do Sul podem resolver seus desajustes entre si. A "paz"entre Venezuela e Colômbia será avalizada também pelo primeiro-ministro da Espanha, José Luís Rodríguez Zapatero, que visita os dois países vizinhos nesta semana.

A apenas seis dias do alerta público do secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, sobre o reaparelhamento das Forças Armadas venezuelanas, em sua passagem por Brasília, o presidente Lula terá ainda a tarefa de, mais uma vez, pedir moderação a Chávez nas suas críticas e acusações contra os EUA.

Na última quarta-feira, Rumsfeld declarou-se preocupado com a insistência do governo Chávez em comprar da Rússia 100 mil fuzis AK-47. A preocupação foi manifestada em Brasília, na entrevista que deu ao lado do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar. Rumsfeld dizia não ver como essa operação poderia contribuir com a estabilidade democrática no continente.

A advertência contra a conduta de Chávez vem sendo feita, também, pelo governo brasileiro: o presidente Lula tem se empenhado em convencê-lo dos riscos de montar milícias populares e de prosseguir com suas ácidas declarações contra Washington. Nos últimos meses, Chávez elevou o tom e até denunciou um suposto plano dos EUA para matá-lo.

Em Brasília, ganhou força a convicção de que a cooperação econômica com a Venezuela seria um instrumento adequado para moderar Chávez e para impedir uma interferência externa indesejável. O evento de hoje segue essa lógica. Foi idealizado durante a visita de Lula a Caracas, no último dia 14 de fevereiro, quando ambos firmaram uma "aliança estratégica", voltada principalmente para a execução de 19 projetos nas áreas de infra-estrutura, de energia de mineração e para o estímulo à substituição de importações.