Título: Lula ainda vai sofrer muito mais desgaste, diz FHC
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2005, Nacional, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda vai sofrer muito desgaste político, apostou ontem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para quem a reeleição, em 2006, não está garantida. 'Vocês precisam ver que o presidente Lula governa há apenas dois anos. Eu, que passei oito anos, sei como o tempo corrói (a popularidade)', disse. Presença destacada no seminário 'Sobre a Importância e a Presença de Bobbio no Brasil e na América Latina', ontem, na Bolsa de Valores de São Paulo, FHC avaliou o atual quadro político e voltou a atacar o governo Lula, depois da breve trégua dos últimos dias. Para quem reclama das críticas que ele costuma fazer, informou: 'Vou continuar opinando, e muito.' Para o ex-presidente, a situação do País está confusa. Ele disse que 'quando os políticos embrulham muito, isso perturba tudo'.

'O jogo agora está embrulhado', emendou. FHC admite que o cenário econômico é favorável a Lula em 2006, mas ressalvou que a reeleição dependerá de muitos fatores. 'Vai depender de a população sentir que o País está avançando. Vai depender da economia, que depende da capacidade de gestão, que depende do quadro político', equacionou.

CANDIDATURA

Fernando Henrique foi mais categórico ao rejeitar sua eventual candidatura em 2006, seja a que cargo for: 'Não sou candidato a nada. Não vejo razão para ser candidato, porque meu partido tem diversos bons candidatos.'

A negativa foi seguida de uma advertência com endereço certo: 'Mas ao dizer que não sou candidato, não estou dizendo que não vou opinar sobre o Brasil. Como cidadão, com a minha experiência, é um imperativo moral dar opiniões', justificou.

E prosseguiu com seu raciocínio: 'Ao dar minhas opiniões, não quer dizer que queira alcançar algum cargo. É o debate.' E, para reforçar, alertou: 'Vou continuar opinando, e muito.' Mais uma vez, FHC condenou a antecipação de uma candidatura do PSDB, como pleitearam algumas lideranças tucanas.

'Seria um erro escolher um candidato agora. Seria uma imposição e candidato majoritário imposto não dá certo', receitou. Aproveitou o tema para mais uma tacada no governo: 'Vejam o erro do PT em pré-lançar o presidente Lula desde já.

O que aconteceu? O pré-lançamento atrapalhou tudo.' Para sepultar a especulação com seu nome, ele externou mais uma irônica estocada em Lula: 'Parodiando o presidente Lula, eu digo que jogador de futebol deve saber a hora de sair do jogo. É melhor parar quando ainda se está forte', disse.

Fernando Henrique diz que não é candidato, mas se candidata a intermediar a escolha: 'Posso ajudar na intermediação para escolher o nosso candidato, quando o momento chegar', sugeriu.

FHC disse que o PSDB nunca se negaria a colaborar com o atual governo, se convocado.

O que houve, disse FHC, foi que o presidente Lula teria optado por uma aliança políticopartidária que não deseja aproximação com o PSDB. O presidente, segundo ele, 'definiu um lado', descartando quaisquer entendimentos com os tucanos. 'Quando eu estava presidente, toda vez que tentei falar com o PT eu não consegui. Não é o caso atual. Não houve, de parte do atual governo, nenhuma busca de convergência conosco.'