Título: Mandante pode não ser Bida, diz PF
Autor: Carlos Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2005, Nacional, p. A9

O fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, não seria o mandante do assassinato da missionária americana naturalizada brasileira Dorothy Stang, mas apenas intermediário do crime. Os mandantes seriam fazendeiros, grileiros e madeireiros da Transamazônica, unidos em torno de um consórcio para matar a freira. Essa é a hipótese que a polícia e o Ministério Público começaram a trabalhar após o depoimento contraditório de Bida à Polícia Federal, no domingo, ao qual o Estado teve acesso. Os suspeitos, sobre os quais o fazendeiro evitou falar, possuem grandes fazendas de gado na região, vendem e compram ilegalmente terras públicas e derrubam a floresta sem autorização. Alguns estão envolvidos em fraudes na Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).

Entre os suspeitos de encomendar o crime investigados pela polícia aparecem os fazendeiros Luís Ungaratti, Délio Fernandes, Yoaquim Petrola, Regivaldo Galvão, o Taradão, um agiota de Altamira que fez fortuna emprestando dinheiro a juros de até 30% a envolvidos com financiamentos da Sudam, além de outros madeireiros. Fernandes e Galvão prestaram depoimento à Polícia Civil no final de fevereiro e foram liberados, negando participação no crime.

COMPLICAÇÃO

O depoimento de Bida à Polícia Federal, no domingo, deixou o fazendeiro em má situação. A certa altura, visivelmente embaraçado, ele se virou para o advogado e questionou: "Não foi isso o que o doutor mandou dizer?"

O que o fazendeiro não consegue explicar é porque, se alega inocência, permitiu que os os pistoleiros Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, e Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, além do capataz Amair Feijoli da Cunha, o Tato ficassem escondidos por dois dias em sua fazenda, após o crime.

A arma usada para matar Doroty, um revólver 38, também foi enterrado em sua propriedade. "Eles não ficaram na minha casa, ficaram no mato. A arma, eu mandei que eles tirassem aquele trem de lá", justificou Bida. O delegado Ualame Machado não saiu convencido. O promotor Sávio Brabo viu mais evidências de um consórcio para eliminar a religiosa.

A mulher do capataz Tato, segundo o depoimento de Bida, teria tentado chantageá-lo, exigindo R$ 400 mil para que seu marido não fizesse acusações. A denúncia será apurada. Bida nega, ainda, ter dito a frase "essa velha está enchendo o saco", antes do crime.

SÓCIOS

Sobre as relações com Taradão, Bida disse que foram sócios no lote 55 da Gleba Bacajá, que irmã Dorothy alegava fazer parte do Plano de Desenvolvimento Sustentado (PDS). Bida alegar ter pago R$ 600 mil pela sociedade.

Para evitar mais contradições no interrogatório na Polícia Civil, ocorrido ontem, o fazendeiro recebeu orientação de seu novo advogado, Américo Leal, para ficar calado. Para as dezoito perguntas do delegado Waldir Freire, Bida respondeu apenas que só se manifestaria em juízo. Freire marcou para hoje uma acareação entre o fazendeiro, os pistoleiros e Tato. O advogado do capataz já orientou o cliente a ficar calado.