Título: Espanhóis acham molécula que freia defesa do corpo
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2005, Vida &, p. A14

Um grupo de jovens cientistas espanhóis, liderado pelo pesquisador Eduardo Lótez-Collazo, identificou uma molécula que freia a ação da célula que deveria defender o corpo quando um tumor começa a se desenvolver no corpo. A equipe do Hospital La Paz, em Madri, com idade média de 30 anos, sugere que a descoberta abre a possibilidade de combater qualquer tipo de câncer - num futuro não determinado, deixam claro. Os detalhes foram publicados este mês no periódico especializado Journal of Immunology (www.jimmunol.org), da Associação Americana de Imunologia. A molécula, chamada IRAK-M, age contra o monócito, um dos tipos de células que compõem o sistema imunológico, especializado em "engolir" outras células ou partículas virais. O tumor provoca uma segregação do ácido hialurônico, substância que chega ao monócito através dos receptores CD44 e TLR4. Ao bloqueá-los, os receptores não conseguem ativar a célula de defesa, o que permite o crescimento das células tumorais.

"Todas as células do sistema de defesa, como os linfócitos, têm a função alterada pelo câncer, mas sabia-se pouco sobre como os monócitos são afetados", explica o chefe do Serviço de Pesquisa Clínica no Instituto Nacional de Câncer (Inca), Carlos Gil. "A equipe espanhola, apesar de não ter tradição na área, consegue descrever a história inteira." A equipe estudou como o sistema imunológico defende o corpo de doenças bacterianas e replicou o mecanismo em casos de câncer.

Lótez-Collazo afirmou que, apesar dos resultados promissores, a descoberta não é uma terapia. Para Gil, há um longo caminho pela frente: "Há 30 anos tentamos montar imunoterapias para pacientes com câncer. Uma coisa é trabalhar em laboratório, outra é lidar com um organismo multicelular que possui diferentes componentes agindo ao mesmo tempo."