Título: Crédito para financiar veículos bate recorde e acirra disputa entre bancos
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/03/2005, Economia, p. B1

Carteira chegou a R$ 39,5 bi em fevereiro e a briga toda é para reduzir a fatia das montadoras, que já chegou a ser de 80%

O total de crédito para financiamento de veículos bateu o recorde de R$ 39,5 bilhões em fevereiro. A alta dos juros nos últimos meses não afetou o segmento. Desde setembro, quando as taxas do Banco Central começaram a subir, o valor nominal disponibilizado pelas instituições financeiras para a aquisição de carros novos e usados aumentou 11,6%. A disputa pelo consumidor é cada vez mais acirrada entre os bancos. Este ano, a carteira nacional deve aumentar mais 20%. O presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito (Acrefi), Erico Sodré Ferreira, diz que o financiamento de veículos é mais rentável e menos arriscado do que emprestar dinheiro para pessoas jurídicas. "Não há concentração de riscos, pois o empréstimo é diluído entre vários consumidores e ainda há a possibilidade de retomada do bem em caso de inadimplência."

O Bradesco, dono da maior carteira de crédito para veículos, sorteia todos os meses R$ 10 mil entre os clientes que estão com as prestações em dia. O banco encerrou 2004 com R$ 10,3 bilhões em recursos liberados, montante que este mês será 26% maior.

A maior instituição bancária privada do País quer chegar ao fim do ano com R$ 15 bilhões a R$ 16 bilhões de crédito nesse segmento, o que representará o financiamento de cerca de 1,5 milhão de veículos, incluindo recursos da Finasa, financeira pertencente ao grupo.

Pelas contas do diretor executivo do Bradesco/Finasa, Paulo Isola, cerca de 40% do montante será destinado à compra de carros com até três anos de uso e o restante para modelos entre três e seis anos. "O Bradesco opera no setor em todas as suas agências e a Finasa atua junto a 15 mil concessionárias e lojas multimarcas", diz Isola.

Os dados mais recentes da Acrefi mostram que a carteira de todos os bancos e financeiras que operam no segmento de carros novos e usados cresce mensalmente desde dezembro de 2002. Naquele mês, estava em R$ 26,9 bilhões. Dois anos depois, fechou em R$ 38 bilhões. O Bradesco tem hoje 27% desse bolo.

Atuar nesse mercado "é uma briga de foice", resume o superintendente de Financiamento de Veículos do Santander Banespa, Jerônimo Varalla. O banco vai liberar este ano R$ 3,5 bilhões para o financiamento de aproximadamente 300 mil veículos. O montante é 35% superior ao de 2004. Em três anos, a instituição pretende disputar a liderança do segmento.

INADIMPLÊNCIA

Os bancos das montadoras, antes responsáveis por 70% do financiamento de automóveis novos, perdem espaço para os privados, mesmo atuando com juros subsidiados. Hoje, respondem por metade dos negócios de modelos zero quilômetro. Duas montadoras já desistiram de ter bancos próprios. A Fiat vendeu sua carteira para o Itaú e a Ford para o Bradesco.

De acordo com a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), o volume de recursos liberados no ano passado, juntando Crédito Direto ao Consumidor (CDC), Finame, leasing e consórcio, foi de R$ 10 bilhões ante R$ 8,3 bilhões em 2003. As vendas financiadas apresentaram aumento de 8,1%, com 599 mil unidades. Este ano, a previsão é de que chegue a 650 mil veículos.

Outra demonstração de que a alta dos juros ainda não afeta esse segmento é o índice de inadimplência. Segundo a Anef, o atraso nos pagamentos foi 16% menor, passando de 4,30% em 2003 para 3,60% dos créditos ativos em 2004.

Só no primeiro bimestre, o Banco DaimlerChrysler disponibilizou R$ 224,6 milhões, 13,6% a mais que em igual período de 2003. A maior parte da verba é para veículos comerciais, como caminhões e ônibus. A carteira da instituição alcançou R$ 2,05 bilhões, um acréscimo de 43,4% em relação ao mesmo período do ano passado.

Na opinião de Varalla, o mercado de financiamento para carros usados está em ebulição. Ele calcula que, para cada carro zero vendido, entre dois e três usados são comercializados. Dos negócios feitos em lojas, no mínimo 60% são financiados. No caso do Santander, 80% do crédito são para essa modalidade. O banco trabalha com 6 mil lojas e concessionárias, além da rede de agências.

Isola diz que a preferência dos consumidores é por prazos de 36 meses. O juro médio do Bradesco atualmente é de 1,7% para modelos com até três anos e de 2,3% para os mais antigos.