Título: Localização conta mais que acervo
Autor: Carla Miranda
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/03/2005, Metrópole, p. C3

Campeão de público na cidade, Museu Paulista, no Ipiranga, quer atrair cada vez mais famílias e se firmar como espaço cultural

O visitante vai chegar ao Museu Paulista e receber um palmtop. Sempre que se aproximar de um quadro, o aparelho vai disparar informações em áudio e vídeo. Isso fora os dados armazenados em totens multimídia. Tudo high tech, dentro de um projeto de remodelação que estará concluído em três anos. Ser um local que guarda a história do País não significa parar no tempo. As primeiras mudanças de porte devem chegar a tempo para o 7 de Setembro. Até lá, a direção espera ter reformado o hall de entrada, incluindo novos balcões de recepção, e instalado catracas eletrônicas. Em vez de barrar as pessoas logo na porta principal, as roletas vão ficar no hall. "A idéia é que o visitante se sinta acolhido e possa ver algo do museu para decidir se entra", diz Eni de Mesquita Sâmara. Diretora do Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga, ela acredita que melhorar a recepção é o primeiro passo para garantir que ele volte.

Dar mais informação também está entre os itens fundamentais. "A pessoa poderá compreender melhor a obra e desenvolver o gosto por freqüentar museus", diz. "Vamos mostrar que não somos um programa só para o 7 de Setembro." A Dia da Independência é o mais movimentado. Em 2004, pelo menos 15 mil pessoas estiveram no museu, campeão de público na cidade, com 350 mil visitantes anuais.

Estudantes são a maioria, seguidos pelos turistas. A estratégia agora é aproveitar melhor o público que visita o jardim ou o parque em torno do prédio histórico e conquistar famílias paulistanas. "Queremos mudar a relação das pessoas com museus, que vejam isto aqui como uma boa área cultural e de lazer. Vamos ter uma loja renovada, um bom café."

Espaço para melhorias sempre há. Um exemplo é o público do Museu Nacional de História, na Cidade do México. Como o Ipiranga, ele fica num prédio tombado, o Castelo de Chapultepec, cercado por uma área verde. Recebe por ano 1,5 milhão de pessoas.

Na quarta-feira, dia 16, além das escolas e dos turistas, havia, sim, paulistanos no museu. A terapeuta Elisa Kajihara, de 52 anos, por exemplo, diz estar decidida a conhecer melhor as atrações da cidade. Já foi ao Memorial da América Latina, do Imigrante, ao Mercado Municipal. "São Paulo tem tanto lugar bonito e não divulga. O próprio paulistano não sabe."

O vendedor Rosivaldo Lemos Barbosa, de 33, até sabia que o museu estava lá, mas nunca tinha entrado. "Nem teria vindo se não fosse para acompanhar minha amiga." Alessandra Lombardi, de 26, anotava as informações sobre as obras expostas, para ajudar na prova de um concurso público.

Cada instituição precisa descobrir sua dinâmica para conseguir mais visitantes, explica a museóloga Maria Ignez Mantovani Franco, da coordenação do Museu Afro-Brasileiro. "É necessário conhecer a missão, definir objetivos e montar a estratégia para atingi-los. Não há mais espaço para a falta de planejamento." O Afro-Brasileiro, no Ibirapuera, recebeu 50 mil pessoas desde a inauguração, em outubro. A entrada grátis e a localização ajudam. "Nos fins de semana, quando o parque recebe gente de bairros mais distantes, vejo famílias inteiras no museu. Muitas não poderiam entrar, se cobrássemos pela visita." A saída para baixar o preço, no caso das instituições com bilheteria, ou até possibilitar a entrada gratuita, segundo ela, é procurar parcerias e patrocínios de empresas.

O Museu de Arte Moderna (MAM), também no Ibirapuera e o terceiro mais visitado na cidade, é grátis aos domingos. A curadora-executiva Rejane Cintrão gostaria de ter mais dias sem cobrar a entrada de R$ 5,50, mas enfrenta um velho problema. "Público a gente já conquistou. Difícil é sensibilizar empresas e mostrar que não precisam colocar grandes faixas anunciando parceria", diz. "Uma montadora já quis colocar um carro no espaço da exposição em troca de ajuda no patrocínio."

Nos últimos dez anos, o museu criou serviço educativo, triplicou o acervo, montou grandes exposições (Miró, Portinari e Andy Warhol), ampliou o clube de sócios e colecionadores, conseguiu mais empresas parceiras. O resultado? O público passou de 12.600 pessoas, em 1995, para 250 mil, no ano passado. "Conseguimos isso com auxílio das leis de incentivo. Elas propiciaram o boom de grandes exposições e mudaram a história da cultura no País."

Visitar exposições de fotografia, ver o trabalho de estrangeiros sobre o Brasil, percorrer um acervo com os maiores artistas do País. Dá para fazer tudo isso num só dia? A resposta, positiva, mostra a vitalidade da Pinacoteca do Estado, hoje o museu de arte mais visitado de São Paulo. Mais de 320 mil pessoas estiveram no ano passado naquele prédio de tijolos aparentes, projetado por Ramos de Azevedo em 1897, para abrigar o Liceu de Artes e Ofícios.

A boa oferta de mostras é um dos motivos para o sucesso da Pinacoteca, que recebe gente mesmo nos dias de semana, quando outros museus ficam vazios. A quase centenária Pinacoteca guarda tesouros da arte brasileira do século 19, além de raridades modernistas de Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti. Há, ainda, esculturas. Entre os mestres, Rodin. A exposição das obras do francês, em 1995, foi um dos maiores sucessos de público do museu, com 150 mil visitantes. "Já ouvi coisas como 'não sabia o que fazer no fim de semana e vim pra cá, pois sabia que ia ter algo bom'", diz o diretor da Pinacoteca, Marcelo Araújo. "Foi minha realização. Um museu sem visitantes perde a razão de sua existência."