Título: FHC diz que pensou em dispensar empréstimos
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2005, Economia, p. B5

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso considerou normal a decisão do governo Lula de não renovar o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), destacando que em sua gestão ele chegou a pensar em dispensar os empréstimos. "Voltamos a ter acordos com o FMI em razão do que chamavam de 'risco da eleição de Lula'. À época, praticamente não precisávamos mais de acordo." Mas advertiu que o fim dos acordos com o FMI impõe alguns compromissos ao governo, como manter o controle fiscal, continuar a defender uma política fiscal estrita e manter os compromissos essenciais do País. O ex-presidente disse que o Plano Real está em andamento até hoje, que a política cambial, que instituiu o câmbio flutuante, é de 1999 e a idéia de uma política fiscal ajustada, com ênfase nas exportações, foi implantada em 2000, com a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal. "O que existe são doses diferentes, porque as circunstâncias e os cenários mudam."

Segundo Fernando Henrique, essa análise não nega o mérito do atual governo, que manteve e consolidou políticas essenciais criadas pelo seu governo. "O governo atual podia não ter feito isso. Fez. Isso é um mérito."

Para FHC, o Brasil amadureceu e aprendeu a manter uma linha definida em suas políticas de governo, seja qual for a ideologia do governo. "Não seria possível fazer o Plano Real se não tivesse havido Plano Cruzado antes", disse, para afirmar que o mais importante, nestes anos de democracia, foi que as instituições brasileiras foram fortalecidas. "Isso não é obra de um presidente, é um somatório, nós mostramos que o Brasil é capaz de resistir a muitas tempestades." O ex-presidente também elogiou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci: "Ele não frustrou a confiança".

Para o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), a decisão de não renovar o acordo com o FMI "é possível porque o ministro Palocci segue a política econômica do governo passado". Segundo o senador, esse é um "desdobramento normal" dos fatos. Virgílio disse acreditar que Palocci, que "é uma pessoa muito sensata", deve ter feito um entendimento prévio com o FMI antes de anunciar a decisão.

Questionado sobre o que a decisão representa do ponto de vista político, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT/SP) valeu-se de metáforas. "Significa que o País saiu do hospital, está andando com seus pés. Temos transparência tanto nas contas externas quanto nas públicas; temos previsibilidade nas decisões; temos confiança internacional e, por isso, essa mudança é possível sem gerar preocupação em relação ao futuro próximo.

Mercadante reconheceu que o ajuste de contas públicas já vinha sendo feito antes do governo Lula, mas entende que o "ajuste fiscal mais consistente" foi feito nos últimos dois anos.