Título: Na Argentina, decisão surpreende e agrada
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2005, Economia, p. B5

A decisão do governo brasileiro de não renovar o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) ganhou destaque na imprensa argentina. As principais emissoras de rádios e televisão comentaram o assunto, enquanto as edições eletrônicas da imprensa escrita chamavam a atenção para a entrevista concedida pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para explicar a decisão. O economista Daniel Marx, ex-vice-ministro de Economia no governo de Fernando de la Rúa, elogiou a atitude brasileira ao dizer que "a decisão do Brasil não é surpreendente porque já vinha anunciando que a tomaria e, creio eu, é uma demonstração de maturidade". Na opinião de Marx, "o FMI está aí para dar assistência a países em situações extraordinárias, em momentos difíceis, em crises, e o Brasil não se encontra em nenhuma dessas situações".

O economista disse ao Estado que no caso da Argentina "é diferente" porque o país poderá necessitar de um acordo para refinanciar os vencimentos deste ano. Segundo ele, as emissões que o governo pretende fazer não atenderão as necessidades de financiamento de 2005. "Quanto mais alternativas, melhor."

Para o economista da consultoria Maxinver, Hernán Fardi, países que sempre precisaram do FMI "estão tratando de se afastar do organismo porque as políticas do Fundo têm demonstrado que não são boas para esses países". O economista afirma que no caso do Brasil, "que tem maior disponibilidade de recursos que lhe permitem ir reduzindo as dependências com o Fundo, é positivo não renovar porque as políticas do FMI são contraproducentes com as situações sociais de cada país".

Fardi acredita que "há uma crise de interesses entre o FMI e os países assistidos porque as receitas aplicadas são de 40 anos atrás e mostram todo o tempo que não servem". O economista argumenta, por exemplo, que "no momento em que é preciso de uma expansão nos gastos para reativar a economia, o Fundo exige dos países com quem tem um acordo que aplique políticas de contração, e isso não adianta nada".

O economista também diz que a Argentina dá sinais de seguir o mesmo caminho do Brasil "porque vem cancelando vencimentos e reduzindo sua dependência com o organismo". Mas, até o final do ano, o país vai precisar de um acordo para "enfrentar os vencimentos da dívida".