Título: Para FMI, País superou expectativas
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2005, Economia, p. B5

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, afirmou ontem que a decisão do Brasil de não renovar o acordo com a instituição "reflete os resultados impressionantes, geralmente além das expectativas, da estabilização macroeconômica do Brasil e das políticas de reforma apoiadas pelo arranjo atual", que expira esta semana. Numa nota, Rato assinalou que esse desempenho, alicerçado no sucesso da política política macroeconômica e "no ambiente global favorável", produziu a forte recuperação da economia em 2004, "diminuiu significativamente as vulnerabilidades econômicas e aumentou a confiança na economia".

Ele deixou clara a razão do apoio do Fundo à decisão brasileira, sublinhando a disposição do governo de aprofundar a política de reformas. "As autoridades estão comprometidas a continuar com a agenda de reformas e passos adicionais para fortalecer as finanças públicas, por meio de reformas do sistema de seguridade social, acabam de ser anunciadas e são bem recebidas pelo corpo técnico e pela administração do Fundo." Rato não economizou elogios ao relacionar os vários êxitos da política econômica conduzida pelo ministro Antonio Palocci: "Desempenho externo notável, redução constante da inflação, forte desempenho fiscal que contribuiu para a redução do nível e a melhora da estrutura da dívida pública."

Embora tenham evitado usar expressões como "acordo de transição", como os que Chile e México fizeram em 2004, ao final de arranjos que envolveram desembolsos de recurso, o governo e o FMI manterão o relacionamento próximo previsto para os países que encerram os acordos formais. "As autoridades brasileiras e o corpo técnico e a administração do Fundo esperam continuar o diálogo estreito e cooperativo sobre política econômica por meio dos canais habituais de vigilância e monitoramento pós-programa." A declaração de Rato chama atenção pela ordem em que aparecem os sujeitos da frase.

Na prática, isso que dizer que além de receber a missão anual do FMI, prevista no convênios constitutivo da organização, o Brasil terá uma segunda visita enquanto sua dívida com o Fundo exceder 100% de sua cota. Os cerca de US$ 23 bilhões que o País deve hoje ao FMI equivalem a 500% e vencem em menos de três anos. Os pagamentos totalizarão US$ 7,8 bilhões este ano e US$ 9,2 bilhões em 2006 e a mesma quantia em 2007.

O ex-chefe da Divisão do Hemisfério Ocidental do FMI, Claudio Loser, que participou das negociações do acordo de 1999, o ponto de origem do que está expirando, disse que decisão não suprendeu. Ele vê vantagem e desvantagem na escolha. "As vantagens estão mais na política interna, de poder dizer que o País não precisa mais do Fundo. As desvantagens podem se manifestar no mercado de capitais, diante de qualquer sinal de afrouxamento da política econômica, o que significa que, sem o aval do Fundo, o Brasil terá de demonstrar de maneira ainda mais forte seu compromisso com as políticas que vem executando." Segundo Loser, de agora em diante a relação entre o País e o Fundo se tornará também mais independente, de parte à parte. "O Brasil terá mais independência na condução de sua política econômica e o Fundo terá também mais independência para se pronunciar sobre o que o País faz."

SNOW ELOGIA BRASIL PELA DECISÃO DE NÃO RENOVER ACORDO COM FMI - Washington, 28 - O secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, disse que recebeu com agrado a decisão do Brasil de não renovar seu acordo de crédito "stand-by" como FMI, dizendo que a resolução reflete a economia e políticas mais fortes do País. "Foi um no tícia extraordinária, uma marca de realização financeira para o País e o grande crédito vai para o presidente Lula por este sucesso", disse Snow em nota divulgada à imprensa. O secretário norte-americano também observou que o crescimento econômico do Bra sil registrado no ano passado foi o mais acelerado em dez anos, com um forte crescimento das exportações de 32%. Snow também recebeu com agrado os planos da administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de reforma da lei de falências e do setor j udiciário, reforma tributária, simplificação da regulamentação para empresas e promoção do desenvolvimento de infraestrutura. As informações são da Dow Jones. (Suzi Katzumata)