Título: Lula para empresários:'Pensem alto'
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2005, Economia, p. B12

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ontem a pedir aos empresários a pensarem "alto" em relação às exportações brasileiras. "Nós não temos que ter medo de ser empresas multinacionais, nem de competir com a China, com os Estados Unidos, cada um do seu tamanho e com a sua qualidade, mas nós temos que nos respeitar", disse o presidente em discurso durante a solenidade de assinatura do convênio entre a Agência de Promoção das Exportações (Apex), o Pão de Açúcar e o grupo francês Casino, dono de 4.900 lojas de conveniências e supermercados na França, para comercialização do produtos tipicamente nacionais. Com previsão de investimentos de R$ 100 milhões, o convênio prevê a comercialização de cerca de 7 milhões de mercadorias, de 230 tipos de produtos, nas lojas do grupo francês. Os itens vendidos vão desde artigos esportivos e roupas de moda praia, até frutas, cachaça, vinhos, peças de decoração e cosméticos. Uma amostra dos produtos foi exposta no Palácio do Planalto e, antes da assinatura dos convênios, o presidente Lula e os ministros Furlan, e da Cultura, Gilberto Gil, visitaram os estandes. Segundo a assessoria do grupo Pão de Açúcar, os produtos alimentícios expostos foram doados ao Programa Fome Zero.

A estratégia, voltada para ampliar a promoção comercial das mercadorias brasileiras aos franceses, foi batizada de "Viva Brasil" e faz parte das ações que marcam 2005 como o ano do Brasil na França.

Além da comercialização de produtos tipicamente nacionais, serão realizados shows de artistas brasileiros e atividades esportivas a partir do dia 1 de junho. "Essa é uma oportunidade que não será de um ministro, mas de homens e mulheres do Brasil que podem ir lá e mostrar que poderemos ocupar um espaço maior", declarou o presidente Lula na solenidade.

(INTERTÍTULO)

Ao convocar 40 empresários de vários setores para comemorar a marca dos US$ 100 bilhões em exportações alcançada no período de 12 meses encerrado em fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não escapou de ouvir reclamações. "Estamos tendo de fazer um esforço muito grande para superar os gargalos da infra-estrutura e outro grande problema é a carga de impostos, especialmente sobre as exportações", afirmou o presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, o primeiro empresário a falar no encontro, do qual participaram também os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e da Agricultura, Roberto Rodrigues.

Apesar das queixas, Agnelli traçou um cenário positivo para o setor de mineração."Estamos num momento positivo e me atrevo a dizer que não haverá mudanças nesse cenário para 2006", disse Agnelli. O presidente da Cargill Agrícola, Sérgio Barroso, concordou que a falta de infra-estrutura coloca em risco o ritmo de crescimento do País. "Mas precisamos separar a infra-estrutura que já existe daquela que não existe", afirmou o empresário, defendendo que as obras de ampliação e de melhorias nos portos, ferrovias e rodovias já existentes poderiam ser feitas com dinheiro do setor privado. "Para isso, basta haver uma redução de burocracia dos governos federal e estaduais."

Ao deixar o encontro, o ministro Furlan disse que o governo continua otimista com o ritmo das vendas externas e projeta para este ano uma meta de US$ 112 bilhões em exportações. Os problemas apontados, segundo ele, são prioridade do governo e Lula garantiu isso aos empresários. "Com as avaliações que ouvimos, confiamos também que possamos alcançar a marca dos US$ 120 bilhões em exportações em 2006", disse Furlan.

O ministro aproveitou para negar que haja qualquer estudo em seu Ministério para adotar medidas que reduzam as importações de produtos chineses. "Não recebemos nenhum pedido de investigação de nenhum setor, mas estamos monitorando pontualmente as importações e elas, em geral, ainda não preocupam", afirmou.

O presidente da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), Antônio Ermírio de Moraes, preferiu não citar os problemas do setor produtivo, mas afirmou ao presidente Lula que o governo não deve temer ações que favoreçam a produção, porque "tudo o que os empresários ganham a gente investe aqui mesmo".

O clima de festa do Palácio do Planalto foi acentuado pela distribuição de camisetas em que se lia "US$ 100 bilhões - Eu ajudei a bater esse recorde". Lula e Furlan foram os primeiros a usar a camiseta. Todos os empresários seguiram o gesto e desceram parte da rampa do Palácio para observar um contêiner (pintado com a marca dos US$ 100 bilhões de exportações), suspenso por um guindaste montado em frente à praça dos Três Poderes. "Não é uma lua-de-mel, mas temos de respeitar o presidente", afirmou Antônio Ermínio ao deixar a rampa.