Título: Para a cadeira mais instável, 3 ministros em 2 anos de Lula
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2005, Nacional, p. A4

Centro de decisões e compromissos cruciais, como o pagamento de aposentadorias, pensões e outros auxílios a cerca de 23 milhões de pessoas, a cadeira de ministro da Previdência Social tornou-se a mais instável da Esplanada. No início do terceiro ano do governo Lula, a pasta já teve três titulares, sem que seus principais problemas fossem resolvidos: déficit explosivo nas contas, fraudes, sonegação e filas nas agências de atendimentos. O cenário, onde boas notícias são raras, parece atrair ainda mais confusões toda vez que o assunto é cortar despesas ou elevar receitas. À frente do ministério do início do governo até janeiro de 2004, o ministro Ricardo Berzoini, hoje no Ministério do Trabalho, teve que enfrentar por quase um ano as resistências à reforma nas regras de acesso aos benefícios previdenciários pelos servidores públicos.

No fim de 2003, não bastasse o desgaste político com o funcionalismo, Berzoini protagonizou um dos episódios de pior repercussão para o governo Lula. Com o objetivo de coibir fraudes no INSS, os benefícios dos segurados com mais de 90 anos de idade foram suspensos, sem aviso prévio, até que os titulares se recadastrassem pessoalmente nos postos. As cenas de filas de idosos, muitas vezes doentes e com dificuldade de locomoção, mancharam ainda mais a imagem do ministro, que teve que voltar atrás dias depois.

O recém-demitido Amir Lando, que voltou ao Senado na semana passada, também viveu dias nada tranqüilos no ministério. Teve que negociar greves dos servidores das agências e dos médicos peritos - episódios que duplicaram as filas de atendimento dos segurados - e buscar uma saída para o pagamento das correções de aposentadorias e pensões dadas pela Justiça, em processos contra planos econômicos antigos. A primeira sugestão foi aumentar as alíquotas de contribuição dos patrões. Bombardeada duramente por empresários e trabalhadores, a iniciativa foi abortada diretamente pelo presidente Luiz Inácio Lula Silva. Na semana passada, assumiu o terceiro ministro da Previdência do governo Lula, Romero Jucá.

Outro ponto em comum entre os ministros da Previdência de Lula é que, se quiserem continuar na vida pública, terão que enfrentar eleições em 2006. Os exemplos do passado mostram que enfrentar as urnas não é tarefa fácil para os políticos que deixaram a pasta, o que fez surgir os comentários sobre uma "maldição da previdência".

Reinhold Stephanes, ministro entre 1995 e 1998, que comandou a reforma da Previdência no primeiro mandato do governo Fernando Henrique Cardoso, perdeu a eleição para voltar à Câmara dos Deputados, assim que deixou o ministério. O mesmo aconteceu com Waldeck Ornelas, que ficou à frente da Previdência de 1998 a 2001 e nem tentou uma nova eleição. Outro ex-ministro da Previdência, o deputado Roberto Brant, perdeu a disputa pela prefeitura de Belo Horizonte (MG) no ano passado.