Título: Inseguro, Planalto tenta adiar votação do imposto
Autor: Denise Madue¿o
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2005, Nacional, p. A5

O governo vai trabalhar para adiar a votação na Câmara da MP 232 - que reajusta a tabela do Imposto de Renda em 10% e aumenta o imposto dos prestadores de serviço - marcada para amanhã pelo presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE). A articulação política do Planalto avalia que precisa de mais tempo para conseguir os votos suficientes dos partidos aliados para aprovar a proposta e não deixar o presidente Lula exposto a mais uma derrota. Caso Severino não concorde em adiar a votação, a ordem é negociar o texto da MP até que ela possa ser aprovada. No limite, os governistas já falam em retirar todos os pontos que signifiquem aumento de impostos, mantendo apenas a correção da tabela em 10%. Hoje e amanhã, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, e o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), vão se reunir com os líderes da base para avaliar os votos reais com que o governo poderá contar. "O foco não é ganhar ou perder. O foco é que o governo vai corrigir a tabela do IR e beneficiar 7 milhões de pessoas e, para isso, é preciso ter financiamento", afirmou Chinaglia.

Na primeira avaliação, a coordenação política reconheceu que a base não está reagrupada e levá-la ao confronto com a oposição no plenário poderia aprofundar ainda mais a crise. O governo entende que não pode impor derrota à base nem contribuir para aumentar o desgaste dos líderes com suas bancadas. Interlocutores de Lula no Congresso consideram que uma derrota do governo reabilitaria Severino, desgastado pelo episódio da reforma ministerial.

Na pauta de amanhã, há duas medidas com prioridade de votações antes da MP 232. O governo tem a alternativa de, por meios regimentais, adiar a votação em uma dia, mas, a partir de quarta, a MP 232 estará na pauta, se não houver um acordo com Severino para retirá-la da lista de votação. Ele incluiu a MP antecipadamente na pauta, demonstrando que pode criar problemas ao Planalto quando quiser.

O governo precisa convencer sua base de que o projeto de conversão elaborado pelo relator, Carlito Merss (PT-SC), modificou a proposta em todos os pontos, exceto no que trata da correção da tabela. "Se os deputados verificarem o que está sendo feito e não pensarem só em 2006, vão entender que o projeto de conversão é muito diferente da MP original", disse Merss.