Título: Itamaraty manda diplomata-pintor negociar seqüestro
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2005, Nacional, p. A6

Chancelaria promove rodízio de cargos em postos no exterior para mudar últimas nomeações de FHC e sofre críticas

BRASÍLIA - Secretamente, o governo Luiz Inácio Lula da Silva está enviando o embaixador do Brasil na Tunísia, Sérgio Telles, para investigar, em Bagdá, o paradeiro do engenheiro João José Vasconcellos Jr., funcionário da Construtora Odebrecht seqüestrado há mais de dois meses por grupos armados rebeldes. Diplomatas brasileiros criticam o gesto, explicando que, no caso do seqüestro, não há interlocutor para negociar; e essa tarefa é mais adequada às empresas que terceirizaram a guerra no Iraque. Segundo experientes embaixadores brasileiros, Telles, a despeito de já ter servido em Beirute, não é um diplomata com perfil para atuar em frentes de guerra. Ele é um artista plástico reconhecido e tem temperamento ameno. "Ele não vai lá negociar, vai para dar a impressão de que o governo está fazendo alguma coisa", diz um experiente diplomata brasileiro.

MUDANÇAS

Nas próximas semanas o governo vai começar a desalojar de cargos de primeira linha no exterior os últimos diplomatas nomeados no fim do governo Fernando Henrique Cardoso. Os critérios que nortearam o novo rodízio foram avaliados com perplexidade por antigos embaixadores. A maior crítica é para a remoção do embaixador José Alfredo Graça Lima, que ocupa a representação do Brasil junto à União Européia, em Bruxelas, para o Consulado Geral de Nova York.

Graça Lima é um dos mais hábeis e experientes negociadores comerciais do País e no consulado terá muito pouca chance de usar seu especial talento para a área comercial. Para o seu lugar na União Européia irá Maria Celina de Azevedo Rodrigues, atual embaixadora na Colômbia. Quem vai substituir Maria Celina é o cônsul-geral do Brasil em Nova York, Júlio César Gomes dos Santos, que foi assessor de FHC.

O embaixador Sérgio Amaral, ex-porta-voz e ministro do Desenvolvimento do governo FHC, deixará a glamourosa embaixada em Paris e deverá pedir aposentaria mesmo sem ter completado 65 anos de idade. Ele tem dito a amigos que vai morar em São Paulo. Para o seu lugar irá a primeira mulher a assumir uma subsecretaria na história do Itamaraty, a embaixadora Vera Pedrosa, cujo posto estaria reservado para o embaixador Ruy Pereira, assessor do todo-poderoso secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães.

Embora tenha dito ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no início do ano, que pretendia retornar ao Brasil e a Juiz de Fora, o ex-presidente Itamar Franco não tem demonstrado empenho nem pressa em encerrar seu ciclo na Embaixada do Brasil na Itália.

A embaixada em Roma, a rigor, está sendo reservada para o embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa, secretário-geral do Itamaraty na era FHC, caso ele não consiga vencer a disputa para a direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), em maio. Para o lugar de Seixas Corrêa será designado o atual ocupante da Subsecretaria-Geral de Assuntos Econômicos e Tecnológicos ( SGET), embaixador Clodoaldo Hugueney, um dos raros diplomatas a ocupar o mesmo cargo desde o fim do governo FHC.

Subsecretário de Assuntos Políticos (SGAP) do Itamaraty no fim do governo FHC, o experiente Ivan Canabrava deixará a embaixada no Japão para assumir a Embaixada do Brasil no México. Para seu lugar será transferido o embaixador André Amado, que ocupava a representação do Brasil no Peru e, antes disso, a direção do Instituto Rio Branco, de formação de diplomatas.

Para o Peru irá o embaixador Luiz Augusto de Araújo Castro, que também havia conduzido a SGAP num período do governo FHC e que hoje é embaixador no México. Outro experiente embaixador, Adhemar Bahadian, que hoje comanda o consulado do Brasil em Buenos Aires e co-preside a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), será removido para a embaixada em Berlim. O embaixador José Arthur Denot Medeiros, com mais de dez anos no exterior, deixará a Alemanha e terá obrigatoriamente de retornar a Brasília. Em princípio, para a SGET, a área que comanda as negociações na OMC.