Título: Bênção do papa comove multidão
Autor: Giovanna Balogh, Simone Menocchi , Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2005, Vida &, p. A12

Milhares de peregrinos reunidos ontem na Praça de São Pedro, no Vaticano, observaram um papa cansado, tentando articular algumas palavras em vão, enquanto abençoava a multidão que foi vê-lo no Domingo de Páscoa. Sua breve aparição na janela provocou comoção entre os fiéis, que aplaudiram, rezaram e choraram ao testemunhar o esforço de João Paulo II, de 84 anos, para falar no microfone - apesar de ele emitir somente alguns sons baixos e incompreensíveis. "Esta é a Semana Santa mais triste que eu me lembro", disse irmã Reina, da Argentina. Para o prefeito de Roma, Walter Veltroni, "o que o papa viveu hoje (ontem) foi algo que transmitiu intensidade e emoção extraordinárias".

O papa permaneceu por mais de dez minutos na janela, fazendo o sinal da cruz e saudando os peregrinos. A tradicional mensagem Urbi et Orbi (à cidade e ao mundo), normalmente repetida por ele em 60 línguas, foi lida pelo secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Angelo Sodano, que também conduziu a missa de Páscoa.

Na mensagem, João Paulo II diz que as pessoas do mundo estão sedentas por "verdade, liberdade, justiça e paz" e pede paz em áreas "banhadas pelo sangue de vítimas inocentes", como o Oriente Média e a África, e "solidariedade com as muitas pessoas que estão ainda hoje sofrendo e morrendo de pobreza e fome, dizimadas por epidemias fatais ou devastadas por imensos desastres naturais".

Durante a cerimônia, diversos fiéis rezavam para que o chefe da Igreja Católica conquistasse "novas energias" e melhorasse. "Este papa tem tal autoridade moral que é difícil imaginar o mundo sem ele", disse o britânico Tim Moran.

Segundo o jornal oficial do Vaticano, L'Osservatore Romano, ser mantido distante das celebrações da Semana Santa "causou dor no papa". Foi a primeira vez que João Paulo II não participou dos rituais em 26 anos de pontificado, conseqüência de sua condição precária de saúde após sofrer uma traqueostomia em fevereiro e pela evolução do mal de Parkinson, diagnosticado há alguns anos.

Ele acompanhou as celebrações a partir de seus aposentos. Na Sexta-Feira Santa, durante o via-crúcis, telões o exibiram para os fiéis que acompanhavam a procissão. Ele apareceu todo o tempo sentado de costas, segurando um crucifixo de madeira, sem emitir uma palavra. A última vez que falou em público foi no dia 13, quando deixou a a Policlínica Gemelli, em Roma, e foi levado de volta para o Vaticano.

TERRA SANTA

Em Jerusalém, milhares se reuniram ontem nos locais sagrados para o cristianismo. O patriarca latino da cidade, Michel Sabbah, representante católico máximo na Terra Santa, celebrou a missa na Igreja do Santo Sepulcro, construída no monte onde Jesus teria sido crucificado, segundo a tradição cristã. Cerca de 20 sacerdotes armênios cobertos com batas pretas acompanharam Sabbah, que saiu do sepulcro com uma chama e acendeu as velas empunhadas por fiéis.

A relativa calma no conflito entre israelenses e palestinos atraiu, em 2005, mais peregrinos estrangeiros a Jerusalém do que em anos anteriores, mas em número reduzido se comparado ao período anterior ao início da intifada (levante palestino contra a ocupação israelense), em setembro de 2000.