Título: Transmissão é a vedete do setor elétrico no governo Lula
Autor: Eugênio Melloni
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2005, Economia, p. B10

Em análises parciais dos avanços obtidos pelo governo Lula no setor elétrico, a área de transmissão desponta com números bastante positivos em relação aos demais segmentos. A transmissão exibiu, nestes dois anos de administração petista, taxas de expansão significativas, com a realização de leilões em que não foram registrados lotes sem compradores e com níveis de deságios consideráveis. Os números saltam aos olhos mesmo quando comparados com os dados dos últimos anos da era FHC, quando a transmissão deu um salto significativo. De acordo com dados apresentados pelo secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Maurício Tolmasquim, foram agregados à malha de transmissão do País 3,5 mil km de novas linhas por ano durante o governo Lula, um crescimento médio de 4,7% ao ano.

Entre 1995 e 2002, a taxa média de expansão do sistema interligado foi de 2,5%, com a incorporação de 1,5 mil quilômetros de linhas de transmissão por ano, em média. A expectativa é que mais 40 mil km serão agregados até 2012 à malha de transmissão de eletricidade brasileira, que atualmente soma cerca de 80 mil km. Ainda segundo os dados oficiais, esse segmento deverá continuar crescendo de forma significativa no médio prazo.

Os benefícios dessa expansão vão desde a criação de empregos até a redução significativa da vulnerabilidade do sistema. Vale lembrar que, durante o racionamento de energia elétrica no Sudeste e Centro-Oeste, entre 2001 e 2002, as hidrelétricas do Sul verteram água por não existirem linhas suficientes para permitir o remanejamento de energia elétrica entre as regiões. Desde então, a expansão das linhas tem eliminado gargalos e proporcionado alternativas de suprimento inclusive para contornar eventuais apagões.

O otimismo não se repete, contudo, quando se trata de expansão da geração. O governo trabalha com a expectativa de que a energia existente e a dos projetos que deverão entrar em operação nos próximos anos serão suficientes para dar conta da demanda proporcionada pelo crescimento econômico até o final de 2009. Agentes privados do setor elétrico são mais conservadores: contam com um suprimento garantido até 2008.

O próprio governo federal não dá garantias de que conseguirá leiloar neste ano as concessões de 17 novas usinas geradoras previstas. A legislação do setor elétrico exige que os projetos dessas usinas sejam transferidos aos empreendedores já com as licenças ambientais prévias concedidas. Até o momento, somente um empreendimento chegou ao estágio inicial do licenciamento ambiental. O governo garante que outras licenças prévias chegarão em breve, mas admite que nem todos os projetos poderão obtê-las.

Considerando-se que são os projetos a serem licitados hoje os que gerarão energia em três ou quatro anos, talvez as expectativas dos agentes privados quanto à garantia de suprimento não sejam tão despropositadas.