Título: Inflação inicia o ano com menos fôlego
Autor: Márcia De Chiara e Celia Froufe
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2005, Economia & Negócios, p. B1

IPC da Fipe e IPV da Fecomércio, divulgados ontem, fecharam janeiro em queda. Mas ela pode ser apenas sazonal

A inflação começou o ano perdendo o fôlego, antes mesmo de ter sofrido o impacto da alta dos juros, que estão subindo desde setembro. Dois índices de custo de vida da cidade de São Paulo divulgados ontem mostram que a média dos preços desacelerou-se em janeiro. O Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) fechou o mês em 0,56%, com queda 0,16 ponto porcentual em relação à terceira prévia do mês e 0,11 ponto porcentual abaixo da de dezembro. O resultado surpreendeu o mercado e também o coordenador do índice, Paulo Picchetti, que projetava 0,66%. Para este mês, ele projeta uma inflação ainda menor, de 0,40%. Se a previsão for confirmada, esta será a menor taxa de inflação desde a segunda quadrissemana de maio de 2004 (0,39%).

O Índice de Preços no Varejo (IPV) da Federação do Comércio confirma a perda de fôlego dos preços. O IPV subiu 1,12% no mês passado, com recuo de 0,57 ponto porcentual ante dezembro. A desaceleração do IPV foi provocada pelas liquidações de verão, que fizeram os preços do vestuário caírem 1,33%, e pela menor elevação dos alimentos, que ficaram praticamente estáveis (0,19%), depois de terem subido 1,15% em dezembro.

O IPC-Fipe foi inferior ao previsto no mês passado em razão do reajuste menor do que o esperado do item viagem e dos gastos com educação. Picchetti atribui esse repasse menor de preços à fraca reposição salarial obtida pelos trabalhadores em 2004. "Ainda que ela tenha ocorrido, foi muito lenta, e verificamos isso agora, com uma menor demanda por viagens, o que significa uma queda de padrão em relação aos dois últimos anos. A mesma análise vale para os gastos com educação."

Também os grupos alimentação e vestuário contribuíram para aliviar o IPC-Fipe. Na terceira quadrissemana, os alimentos tinham subido 0,47% e agora ficaram praticamente estáveis (0,06%). O vestuário fechou o mês com queda de 0,27%. Na terceira quadrissemana esse grupo tinha aumentado 0,05%.

Economistas dizem que ainda é cedo para afirmar que o arrefecimento da inflação em janeiro possa ser extrapolado como uma tendência para o ano. "Os fatores que levaram à desaceleração dos índices são sazonais e transitórios", diz o economista da LCA Ricardo Denadai.

Essa avaliação é compartilhada pelo coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas, Salomão Quadros. Segundo ele, além das influências sazonais, é preciso levar em conta vários fatores novos que estão alterando a demanda na economia e talvez dando uma maior resistência à queda do consumo, como o crédito consignado. O economista pondera que está havendo crescimento da massa salarial e argumenta que é preciso avaliar se a desaceleração da indústria está ocorrendo na demanda.

Denadai acredita que o impacto da política monetária apertada deverá ser sentido nos preços na virada do segundo para o terceiro trimestre. O economista-chefe da Sul-América, Newton Rosa, acha que os reflexos vão aparecer já no fim deste mês. "De fevereiro para março deveremos ter alguns sinais mais claros. Ainda eles são contraditórios."

Entre os fatores que sustentam a decisão do Banco Central de manter o juro elevado e aumentá-lo ainda mais é o fato de ter imposto uma meta de inflação austera de 5,1%, como ponto central, e ter decidido persegui-la a todo custo. "Poderíamos ter uma meta de inflação mais folgada, de 6% este ano, e permitir que o País crescesse mais", pondera Denadai.