Título: Fiesp festeja recorde em 2004, mas teme 2005
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2005, Economia, p. B3

A indústria paulista cresceu 8,5% no ano passado, o melhor resultado desde o Real. A combinação de juros em alta e dólar em queda, porém, ameaça início do ano

O Indicador de Nível de Atividade (INA), que mede o desempenho da indústria paulista, cresceu 8,5% em 2004, depois de 2 anos seguidos em queda. Para a Federação e o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp e Ciesp), foi o melhor resultado desde o início do Plano Real, em 1994. Mas as duas entidades prevêem crescimento menor da produção para este ano, com os efeitos negativos da alta dos juros, iniciada em setembro, já se fazendo sentir na atividade industrial durante o primeiro trimestre. Além disso, o dólar desvalorizado deverá influir na desaceleração do ritmo das exportações no segundo trimestre.

"Todo mundo sabe que vai chover. Não podemos dizer que já está chovendo. Mas há nuvens negras sinalizando que a indústria vai colher o impacto desse mau tempo", disse Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas da Fiesp, referindo-se ao juro alto e ao real valorizado.

Além desses dois fatores negativos, Boris Tabacof, diretor de Economia do Ciesp, disse que a base de comparação (o ano de 2004) será forte, lembrando que no ano passado houve o benefício da comparação com 2003, que foi um ano ruim para a indústria.

"Há um ambiente de ansiedade na indústria, devido à questão dos juros e do câmbio. Mas isso não significa que o ano de 2005 já esteja condenado, pois pode haver mudanças no ordenamento da política econômica, já que há uma movimentação na sociedade nesse sentido", ponderou Tabacof.

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que participou ontem de encontro de representantes da indústria brasileira (ver texto ao lado), observou que a economia apresentou um resultado muito positivo em 2004, e até por inércia o resultado também deverá ser positivo este ano, porém bem mais modesto. "Queremos é um crescimento sustentado. E, sem a menor dúvida, com juros altos e câmbio baixo, não há condições de se pensar em crescimento sustentado".

A produção cresceu em 2004, depois de ter caído 1,8% em 2002 e recuado 3,4% em 2003. Francini e Tabacof afirmaram que o crescimento no ano passado foi puxado pelo bom desempenho do agronegócio e das exportações, além de produtos típicos de mercado interno cujas vendas foram beneficiadas pela melhora no crédito. "Houve uma série de fatores positivos. Os juros se desaceleraram, teve início um novo ciclo de investimentos, principalmente para a compra de máquinas e equipamentos, e alguns setores, como a indústria automobilística, atingiram recorde de produção e vendas", disse Francini.

O diretor da Fiesp disse que a produção da indústria paulista em 2004 foi a maior dos últimos 10 anos. Francini observou que em 1994, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a indústria do Estado havia crescido 17,7%.

Em dezembro, o INA teve alta de 8,6% em relação a igual período de 2002. Mas o índice registrou queda de 8,2% na comparação com novembro, sem os devidos ajustes sazonais. "Não foi a taxa de juros que provocou a queda da produção no fim do ano passado. Tradicionalmente, a atividade industrial diminui em novembro e dezembro", observou o diretor da Fiesp.