Título: Palocci vai ao G-7 debater efeitos da queda do dólar
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2005, Economia, p. B4

Ministros do Brasil, Índia, China e África do Sul são convidados para participar do encontro ministerial do grupo dos 7 países mais ricos do mundo

LONDRES - A desvalorização do dólar e o seu impacto sobre a economia mundial será o tema que deverá dominar o encontro dos ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do G-7, o grupo dos sete países mais ricos do mundo, hoje e amanhã em Londres. O encontro contará com a presença do ministro Antonio Palocci, representando o Brasil. O comportamento dos preços do petróleo e o futuro da economia chinesa também integram a pauta principal do evento, o primeiro sob a presidência britânica do G-7 em 2005.

Palocci, juntamente com colegas da China, Índia e África do Sul, terá um café de manhã informal com os ministros do G-7 no sábado. Entre os dias 4 e 6 de julho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve participar do encontro de cúpula dos grupo, no Hotel Gleneagles, na Escócia.

O responsável pelas Finanças da Grã-Bretanha, Gordon Brown, considera o Brasil um dos países emergentes que deverão se tornar potências econômicas no médio prazo. Um documento elaborado pelo Tesouro britânico no final do 2004 citava o Brasil como um país estrategicamente posicionado para fortalecer a sua posição no cenário internacional.

Palocci deverá manter alguns encontros bilaterais com os participantes do G-7. Além disso, hoje ele deverá jantar com um grupo de cerca de 20 empresários, investidores e analistas da City londrina na residência do embaixador brasileiro José Maurício Bustani.

Há uma grande expectativa de que os Estados Unidos sinalizem durante a reunião uma estratégia para aliviar seus enormes déficits fiscal e em conta corrente, fator necessário para conter no longo prazo uma depreciação mais acentuada do dólar. Os europeus estão particularmente preocupados com a queda dólar, afirmando que o euro está com a maior parte desse ajuste.

Isso, segundo eles, poderá ter conseqüências muito negativas para a competitividade das exportações européias. A Europa e os EUA querem também que a China inicie uma valorização gradual do yuan. Sábado, durante um almoço, os ministros do G-7 devem cobrar do presidente do Banco Central da China algum sinal concreto nessa direção.

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, já se comprometeu a pôr a África como prioridade na agenda do grupo. O ex-presidente sul-africano Nelson Mandela está em Londres em campanha para que os países ricos agilizem o processo de perdão das dívidas dos países africanos. Brown disse que o G-7, sob a presidência britânica, deverá exibir muitos progressos nesse campo. Ontem, Blair e Mandela, que hoje fará um discurso aos ministros, se encontraram.

Antes, em uma manifestação na Trafalgar Square com 10 mil pessoas, Mandela disse que "o mundo está faminto por ações". E conclamou: "Não olhem para outro lado. Não duvidem. Reconheçam que o mundo está faminto de ações e não de palavras".

O ex-presidente também pediu envolvimento na luta contra a pobreza, que deve implicar a superação dos obstáculos para o desenvolvimento do Terceiro Mundo, como a dívida externa, o comércio e a aids. "Da mesma forma que a escravidão, a pobreza não é natural".