Título: Reservas do País podem ter crescido R$ 7 bi em 2 meses
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2005, Economia, p. B4

RIO - As reservas internacionais líquidas do Brasil - que excluem os empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) - devem ter crescido US$ 7 bilhões, ou mais de 30%, em dois meses, e já estão em US$ 29 bilhões, segundo estimativa de relatório do Crédit Suisse First Boston (CSFB) divulgado ontem. "Ninguém esperava reservas internacionais de quase US$ 30 bilhões em janeiro, este era o número esperado para o final do ano", diz Nilson Teixeira, economista-chefe do CSFB. Ele observa que ainda mais notável é o fato de que a veloz acumulação de reservas tenha sido concomitante a uma valorização do real. No fim de novembro, a cotação era de R$ 2,72 por dólar, tendo caído para R$ 2,60 ontem.

O CSFB estima que o Banco Central comprou US$ 2,7 bilhões em janeiro, que se somam a outros US$ 2,7 bilhões em dezembro. Estes US$ 5,4 bilhões adicionam-se a emissões soberanas recentes de 650 milhões e US$ 1,25 bilhões, que devem ser incorporadas às reservas nos primeiros dias de fevereiro.

As baixas reservas internacionais do Brasil, excluindo os empréstimos do FMI, vêm sendo apontadas há algum tempo como um dos problemas que mantêm a vulnerabilidade externa do País. Dessa forma, um dos desafios econômicos pendentes é o de aumentar as reservas, para preparar o País para o repagamento dos empréstimos do FMI nos próximos anos.

Aumentar as reservas já estava na pauta do governo Lula desde o início. A surpresa agora é que o processo está acontecendo em um ritmo inimaginável em meados do ano passado. Um exercício aritmético simples mostra que, mantido este ritmo, as reservas (excluindo FMI) atingiriam US$ 42,5 bilhões no fim do primeiro semestre e US$ 59 bilhões no fim do ano. Na verdade, estes números poderiam até ser maiores, pois não incluem as compras do Tesouro nem as captações internacionais do País. E são cifras compatíveis com uma percepção de risco bem superior à que hoje o Brasil desfruta no mercado internacional.

Teixeira alerta, entretanto, que é um pulo grande demais supor que o crescimento das reservas internacionais continuará no atual ritmo ao longo do ano, por várias razões. Algumas delas são a possibilidade de que o saldo comercial brasileiro diminua e o cenário de abundante liquidez externa se altere para pior com potenciais tensões no processo de alta gradual das taxas de juros americanas.

Ele nota que o País também acumulou reservas vigorosamente no fim de 2003 e janeiro de 2004, mas o processo acabou interrompido com a piora do mercado externo. Acumular reservas também traz problemas monetários e fiscais. No segundo caso, pela diferença entre a sua remuneração e o custo para o governo de captar reais no mercado interno para comprar dólares.

Outro fator de cautela é que o atual acúmulo de reservas está ligado em boa parte a capitais de curto prazo em busca dos altíssimos juros brasileiros, que podem fugir tão rápido quanto entraram. Mesmo levando em conta todos esses fatores, o crescimento das reservas neste início de ano é um novo e positivo fator para o risco Brasil.