Título: Petrobrás pode antecipar produção de gás em Santos
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2005, Economia, p. B6

Estatal avalia tecnologia que leva o combustível diretamente do Campo de Mexilhão para o continente, sem passar pelas plataformas, o que permitirá ganhar um ano

RIO - O gás natural da Bacia de Santos pode ser levado diretamente para o continente, sem passar por plataformas de produção, como ocorre normalmente em projetos de produção de petróleo e gás. Chamada de subsea to beach (do fundo do mar para a praia), a tecnologia é uma das alternativas em estudo na Petrobrás. A estatal pretende definir o projeto básico do campo de Mexilhão - uma das principais reservas brasileiras do combustível - ainda no primeiro semestre deste ano. A produção no local deve custar cerca de US$ 1,5 bilhão e pode ser antecipada em um ano, para 2008.

O sistema prevê a interligação dos poços produtores a um equipamento submarino chamado manifold. Daí, a produção segue em um único duto para ser tratada em uma instalação em terra e depois distribuída para a malha de transporte de gás.

O diretor de exploração e produção da Petrobrás, Guilherme Estrella, disse que essa tecnologia já vem sendo testada no Golfo do México e no Mar do Norte. Técnicos do Centro de Pesquisas Tecnológicas da estatal (Cenpes) avaliam a possibilidade de utilizá-la em Mexilhão.

Esse modelo pode garantir redução significativa no custo do projeto: uma plataforma de grande porte como as que a Petrobrás vem construindo pode custar entre US$ 700 milhões e US$ 1 bilhão.

Outras duas alternativas para Mexilhão envolvem construção de plataformas: na primeira, uma semi-submersível em águas profundas, a cerca de 130 quilômetros do litoral Norte de São Paulo; na segunda, uma plataforma fixa - sobre colunas apoiadas no fundo do mar - em águas rasas, mais longe do campo. Nessa última, a produção de cada poço seria levada à plataforma por dutos submarinos.

A estatal tem até o fim de 2006 para avaliar as jazidas de Mexilhão. Atualmente, o campo tem cerca de 85 bilhões de metros cúbicos de reservas provadas e quase o equivalente em volume ainda a ser testado.

Este mês, a empresa trabalha em um novo poço no local. Dependendo da vazão, pode acelerar o ritmo do projeto. Se não , parte-se para avaliações das jazidas do entorno do reservatório principal.

Estrella afirmou que o desenvolvimento do campo é uma das prioridades da empresa, ao lado das reservas de petróleo leve do Espírito Santo e de Sergipe. Além de Mexilhão, a Bacia de Santos tem outras reservas de gás natural em um bloco exploratório chamado BS-500, com volumes semelhantes, além de petróleo.

Os reservatórios serão testados ainda este ano para que a empresa defina o volume recuperável e o início d produção. Além de mais distante da costa, o BS-500 tem condições geológicas diferentes, que a exploração.

AMBIENTE

Os investimentos em Mexilhão vão beneficiar um município do litoral Norte de São Paulo, ainda não escolhido, que vai sediar uma unidade de processamento de gás natural (UPGN), necessária para tratar a produção, separando frações diferentes do gás e produzindo gás de cozinha.

Estrella informou que a escolha da cidade vai depender do traçado dos tubo que vai levar a produção ao gasoduto Campinas-Rio, já em construção, e conseqüentemente, à malha brasileira de dutos. "A tubulação vai subir a Serra do Mar em uma área de Mata Atlântica nativa e, por isso, a definição depende de questões ambientais", explicou.

Mexilhão foi descoberto em 2003 e declarado comercial à Agência Nacional do Petróleo (ANP) em 204. Faz parte de uma série de descobertas em blocos concedidos à estatal antes do fim do monopólio no setor, em 1997, onde se inclui o BS-500.

Ao todo, a empresa acredita ter encontrado 420 bilhões de metros cúbicos de gás natural em Santos, volume que pode ser ampliado de acordo com o desenvolvimento de testes nos reservatórios. Este ano, a ANP voltará a licitar áreas próximas das reservas para desenvolver o potencial gasífero do subsolo brasileiro.