Título: Compra de petroleiros anima indústria naval
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2005, Economia, p. B6

Anúncio da Transpetro movimentou empresas tradicionais e de outras áreas

O anúncio da Transpetro (subsidiária da Petrobrás) de que comprará 42 petroleiros no mercado nacional reanimou a indústria naval brasileira. Para disputar a maior licitação da história do setor, companhias tradicionais no ramo e empresas de outras áreas já desenham projetos para a construção de estaleiros no País. Os principais interessados são grandes construtoras, como Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht e Queiroz Galvão. A notícia também despertou o interesse de vários Estados na disputa pelos investimentos, com alto potencial de criação de empregos. Dois deles, Pernambuco e Rio Grande do Sul, já têm projetos confirmados para a construção dos estaleiros. No Estado gaúcho, duas empresas devem iniciar em breve obras no Porto de Rio Grande: o grupo norueguês Aker Promar - o quarto maior construtor de navios do mundo - e o Rio Grande - um projeto de três empresários brasileiros.

No caso da empresa norueguesa, o investimento deverá ser de US$ 150 milhões, dos quais US$ 80 milhões serão aplicados na primeira fase, prevista para ser concluída em 14 meses. A segunda fase terá como finalidade a construção de plataformas marítimas e exigirá nove meses de trabalho.

A empresa calcula que na primeira etapa serão criados dois mil empregos diretos mais oito mil indiretos. A fase seguinte abrirá cerca de cinco mil novos postos de trabalho direto e outros 20 mil indiretos. O grupo afirmou estudar a possibilidade de firmar parcerias com outras empresas para a conclusão do negócio. Uma parte do empreendimento será financiado pelo Fundo de Marinha Mercante por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Segundo a empresa, a escolha de Rio Grande levou em conta o fácil acesso do local, existência de cais pronto, descentralização da atividade, hoje concentrada no Rio de Janeiro, disponibilidade de mão-de-obra e incentivos fiscais oferecidos pelo governo estadual e municipal.

A empresa afirmou que tem sido convidada para a instalação de estaleiro em vários Estados brasileiros e que todos os projetos são analisados com a atenção que o assunto requer.

Outro que vai compor o já chamado pólo naval do Rio Grande do Sul é o Estaleiro Rio Grande. Segundo o gerente de implantação do projeto, Roberto Dieckmann, o projeto está praticamente completo, aguardando as licenças ambientais.

O investimento será de US$ 110 milhões, com parte dos recursos também financiados pelo Fundo de Marinha Mercante. A expectativa, diz ele, é que em abril ou maio tudo esteja pronto para iniciar as obras. Antes de escolher o Porto de Rio Grande, a empresa procurou outros Estados, como Rio de Janeiro e Bahia, para construir o estaleiro. Mas as vantagens do terreno encontrado no Sul e da logística do local convenceram a empresa a iniciar o empreendimento na cidade.

Construtora

O Estado de Pernambuco também poderá ter um estaleiro no Porto de Suape, construído pela Camargo Corrêa. Segundo fontes do mercado, o investimento do empreendimento seria da ordem de R$ 50 milhões e poderá criar 5 mil empregos diretos e 21 mil indiretos.

A construtora, no entanto, não quis detalhar o projeto, mas afirmou que a construção do estaleiro está associada ao resultado da licitação da Transpetro. Ou seja, se houver pedidos, a empresa dará andamento ao projeto. A empresa já tem a concessão de uma área no Porto de Suape para o estaleiro.

Diante do potencial do negócio, o governo do Estado de São Paulo também tenta atrair investimentos ao Porto de Santos. O trabalho tem sido feito pelo secretário de Ciências e Tecnologia do Estado, João Carlos Meirelles.

Segundo ele, a vantagem de se construir um estaleiro em São Paulo é que toda a indústria de equipamentos e insumos para a construção de navios está aqui. "Isso sem contar toda engenharia naval que há no Estado." Além disso, a Usiminas por meio da Cosipa, produtora de chapas de aço, se dispôs a ser parceiro de algum empreendimento e garantir o fornecimento da matéria-prima, completa Meirelles. Outra vantagem é que há áreas no porto com condições ambientais adequadas para a construção do estaleiro.

O presidente da Abdib, Paulo Godoy, afirma que as construtoras nacionais estão interessadas no negócio, mas pretendem se associar a alguma empresas especializada para entrar no ramo naval. "Mas é preciso ter encomendas permanentes."