Título: Pressionada pelo Planalto, PF desiste de força-tarefa no caso Waldomiro
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2005, Nacional, p. A8

Sob pressão do Palácio do Planalto, a Polícia Federal desistiu de montar uma força-tarefa para concluir o caso Waldomiro Diniz, que completa hoje um ano sem solução, em meio a uma série de atropelos no inquérito. O recuo da PF jogou uma ducha de água fria nas investigações, que perdem o caráter prioritário e passam a ter um tratamento ordinário. A medida deixou integrantes do Ministério Público com medo de que os últimos movimentos do governo possam gerar a impunidade dos envolvidos no caso. A desistência da força-tarefa está em relatório apócrifo da Polícia Federal, ao qual o Estado teve acesso. Produzido a pedido do Planalto, o documento pondera que a autoridade policial, se necessário, terá o apoio de peritos criminais, auditores fiscais e outros especialistas no cumprimento das diligências. O inquérito está sendo tocado pela terceira vez pela PF, após ter sido devolvido duas vezes pela Justiça Federal por falhas nas investigações.

Subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República, Waldomiro foi afastado do cargo em 13 de fevereiro de 2004, após a divulgação de fita de vídeo em ele que aparece negociando propina com o empresário de jogos Carlos Cachoeira, quando dirigia a Loteria do Estado do Rio (Loterj), em 2001. Investigações do próprio Palácio do Planalto constataram que Waldomiro continuou realizando negócios escusos já no atual governo federal, para o qual foi trazido pelo ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.

Desde então, Waldomiro vem sendo investigado pela PF e em mais três processos abertos por iniciativa do Ministério Público e da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, que criou uma CPI para o caso. As primeiras diligências constataram que o ex-assessor usou o cargo para tentar tirar vantagem na renovação do contrato milionário entre a multinacional Gtech e a Caixa Econômica Federal (CEF) para operação da rede de loterias do País.

Ainda conforme as investigações, Waldomiro teria pressionado a Gtech a contratar o empresário paulista Rogério Buratti para intermediar o negócio, por uma comissão de R$ 6 milhões. Ligado ao PT paulista, Buratti foi secretário da prefeitura de Ribeirão Preto quando era prefeito o atual ministro da Fazenda, Antonio Palocci. A diretoria da multinacional informou que foi "alvo de chantagem", mas nega ter pago a comissão ou cometido irregularidade para obter o contrato.

O episódio provocou o primeiro escândalo de corrupção do governo Lula e desgastou o ministro Dirceu, que desde então tem tido uma atuação tímida.

Na primeira vez que foi devolvido, em abril de 2004, o inquérito tinha indiciados demais - nove - e provas de menos. A Justiça rejeitou o caso para novas investigações por considerar que o procurador da República, Marcelo Serra Azul, precipitou-se ao oferecer denúncia sem que a PF tivesse concluído suas diligências. Atendidas as queixas do delegado Antônio César Nunes, o inquérito foi finalmente remetido à Justiça em dezembro de 2004, desta vez com apenas três indiciados e um rol de provas ainda mais murcho.

Aí foi a vez de o novo procurador designado para o caso, José Robalinho Cavalcante, esbravejar. O relatório da PF diz que o procurador "não concordou com as conclusões do delegado e teceu críticas expressas ao relatório, considerando-o superficial".

Robalinho, ainda conforme o relatório, também requisitou várias diligências não realizadas por César Nunes, as quais considera fundamentais para elucidar o caso CEF/Gtech.

Nunes se defende e devolve a crítica ao Ministério Público, que a seu ver cometeu erros no início da investigação, permitindo que os suspeitos removessem provas e montassem uma blindagem defensiva, além de ter feito uma primeira denúncia a seu ver "intempestiva". Nela, Serra Azul denunciava, além de Waldomiro, a diretoria atual da CEF, dois diretores da Gtech e Buratti por corrupção passiva, formação de quadrilha e outros crimes.

Reaberto o caso, Nunes concluiu que só havia provas de envolvimento de Waldomiro e Buratti nos crimes de tráfico de influência e extorsão e inocentou os demais. Ele incluiu um terceiro nome na denúncia, o do jornalista Etelmino Pedrosa, por falso testemunho.