Título: Aliados querem recuperar poder na gestão Severino
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2005, NACIONAL, p. A8

Líderes partidários reclamam de que não são informados sobre trabalhos da Câmara

Os líderes dos partidos aliados ao governo estão tentando recuperar o poder de interferir no andamento dos trabalhos da Câmara, perdido desde que Severino Cavalcanti (PP-PE) assumiu o comando da Casa. Na gestão Severino, o Palácio do Planalto está vulnerável nas votações, sofre derrotas e perdeu a capacidade de influenciar na elaboração da pauta dos trabalhos e na indicação dos relatores dos projetos de seu interesse. Desde a semana passada, os líderes aumentaram a pressão para que Severino retome a prática de reunir os líderes partidários para definir os projetos que entrarão na pauta e estabelecer critérios para a escolha de relatores. Em um jantar na casa do deputado Vicente Cascione (PTB-SP), vice-líder do governo, quarta-feira da semana passada, os líderes da base pediram a Severino que consulte os partidos políticos antes de tomar as decisões.

Os aliados têm procurado agir com cuidado para não melindrar Severino e evitar que ele tenha uma reação de pouca colaboração. "Estamos construindo um caminho para acertar", limitou-se a dizer o líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP). No jantar, Severino disse que tem a intenção de prestigiar os líderes, mas, no entendimento de um dos aliados, deixou claro que, se houver muita perturbação, "vai fazer a Câmara andar do jeito dele".

No dia seguinte, o deputado Wladimir Costa (PMDB-PA) anunciou que abria mão de ser o relator da comissão parlamentar de inquérito (CPI) criada para investigar as privatizações do setor elétrico. Polêmico, Costa havia sido indicado por Severino, mas enfrentou resistências dos partidos. A relatoria dessa CPI é reivindicada pelo PT, que pretende indicar para o posto o deputado Mauro Passos (PT-SC).

ENCONTRO

O líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA), espera apenas a definição dos vice-líderes da bancada, que devem ser escolhidos em uma reunião hoje, para marcar um encontro entre os deputados petistas e Severino. A reunião servirá principalmente para lembrar ao presidente da Casa que, como é a maior bancada, o PT tem direito à preferência em algumas escolhas.

No jantar com os líderes da base governista, apenas o do PP, partido de Severino, José Janene (PR), não esteve presente. Mas os líderes admitem que a situação já está se tornando muito difícil. "O presidente da Câmara não pode tocar os trabalhos do jeito que quiser. Ele tem de colocar as regras para a gente entender o jogo", afirmou o líder do PL, Sandro Mabel (GO).

O líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE), reclama que não consegue conversar com Severino. "A gente entra na sala para conversar, mas tem cem pessoas lá dentro e não se consegue falar sobre a pauta ou sobre procedimentos. Isso não tem sido bom para nós", afirmou. "A gente quer que volte a ser como antes. Que tenha reunião de líderes, que se combinem as coisas. É isso que estamos pleiteando", completou o líder do PTB.

Desde que assumiu a presidência da Câmara, Severino não reuniu o colégio de líderes para tratar dos projetos, da pauta ou das indicações de relatores. Ele tem centralizado as decisões, escolhendo os projetos que serão votados no plenário e indicando os relatores, usando da prerrogativa de presidente da Casa.

Projeto que cria dez Estados pode sair da gaveta

Marcelo de Moraes

BRASÍLIA - Depois de ser surpreendido pela aprovação de projetos que ampliam os gastos públicos, o governo poderá ver nos próximos dias a Câmara começar a votar até mesmo a mudança do mapa do Brasil. Aproveitando o desengavetamento de projetos proporcionado pela administração do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) no comando da Câmara, a Comissão da Amazônia colocou na sua pauta de votações da sessão de amanhã projetos que estabelecem plebiscitos para a criação de nada menos do que dez novos Estados e um território. As propostas incluem plebiscitos para o fatiamento dos Estados do Pará, Amazonas, Mato Grosso e Amapá. Projeto de Decreto Legislativo 1217/04, do deputado José Roberto Arruda (PFL-DF), prevê a realização de plebiscito no Mato Grosso para a criação dos Estados de Aripuanã e do Araguaia. No Pará, os plebiscitos discutirão a criação dos Estados de Xingu, de Tapajós e de Carajás. Já no Amazonas, serão discutidas a criação dos Estados do Rio Negro, de Solimões, do Uirapuru, do Madeira e Juruá.

Outro projeto, de autoria do deputado Benedito Dias (PP-AP), cria o Território de Marajó, englobando a área correspondente a Ilha de Marajó.

A proposta já recebeu parecer favorável dentro da Comissão da Amazônia do deputado Davi Alcolumbre (PDT-AP).