Título: População indígena cresce 3% ao ano
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/03/2005, Nacional, p. A13

Segundo estudo, essa é uma das explicações para problemas ambientais que os índios enfrentam nas áreas em que foram confinados

ÍNDIOS A população indígena brasileira - em torno de 400 mil pessoas - tem apresentado um crescimento de 3% ao ano, quase o dobro da média nacional, que é de 1,6%, segundo dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento demográfico agrava os problemas ambientais nas áreas de reserva porque os índios desconhecem padrões de comportamento ambiental. Em Mato Grosso do Sul, esse crescimento populacional é uma das explicações para os problemas que os índios enfrentam nas áreas em que foram confinados. De acordo com textos publicados no livro Terras Indígenas & Unidades de Conservação da Natureza - O Desafio das Sobreposições, do Instituto Socioambiental (ISA), eles dilapidaram até mesmo recursos críticos para a sua sobrevivência - como a lenha que usam para cozinhar.

Com a escassez de madeira para lenha nas reservas, os índios invadem áreas particulares contíguas às reservas indígenas e provocam conflitos com os proprietários.

Em outras regiões, os índios avançam sobre áreas de preservação integral. É o que estaria acontecendo no Parque Nacional do Araguaia, segundo a engenheira agrônoma Maria Tereza Pádua, especialista em áreas protegidas e ex-diretora de Parques e Fauna Silvestre do antigo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF).

FOGO

Em entrevista para o livro, Tereza afirma que os índios javaés, carajás e avás-canoeiros da região alugaram parte de suas terras na Ilha do Bananal a pecuaristas, que ateiam fogo na vegetação todos os anos, para a formação de pastos.

"Devido a esse fato, a riqueza biótica original da ilha sofreu enorme erosão e devastação, principalmente nos 1,4 milhão de hectares destinados a eles", frisando que se trata de uma população de 3 mil índios. "O que fizeram então? Invadiram o Parque Nacional."

Ela cita vários outros casos semelhantes no País, assinalando que essas invasões não têm levado à melhoria na qualidade de vida dos índios. "Nós todos defendemos um tratamento justo para as populações indígenas, mas não defendemos a invasão de parques e demais áreas protegidas com o beneplácito de nossas autoridades e em desacordo com a legislação em vigor", diz.

"Os índios têm tanto direito como os brasileiros têm, também, de manter uma mínima porção do território nacional como foi antes que o 'desenvolvimento' desestruturasse e arrasasse tudo", reitera Maria Tereza.

Em defesa dos índios, o biólogo Jean-François Timmers, integrante da Associação Flora Brasil e consultor da diretoria de Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente, lembra que não foram os índios que destruíram as florestas brasileiras. Culpar os índios pela ameaça ambiental, afirma, é uma atitude preconceituosa e semelhante ao que ocorre com minorias marginalizadas na Índia, Tailândia e África. "Elas são sempre apontadas como responsáveis pela destruição dos ecossistemas."

Na opinião do filósofo Márcio Santilli, ex-diretor da Funai e membro da direção do ISA, a radicalização prejudica o debate. "A melhor alternativa diante dos ambientalistas ainda é a de criar condições mais favoráveis para que os índios manejem sustentavelmente os recursos naturais de suas terras", afirma.

"A sua criminalização, como se fossem protagonistas - e não vítimas - de práticas predatórias, funciona como um tiro no pé de qualquer estratégia conservacionista."