Título: Tática é para ganhar força em negociações
Autor: Reuters e Associated Press
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2005, Internacional, p. A16

Quando um país quer entrar no clube nuclear, detona uma bomba WASHINGTON - Fazendo subir os riscos num impasse que já dura dois anos, a Coréia do Norte indicou que tem pouco interesse em abrir mão de seu programa nuclear em troca das concessões relativamente pequenas oferecidas pelo governo Bush. Parece estar apostando que os Estados Unidos e seus aliados acabarão aceitando a idéia de uma Coréia do Norte nuclear. A cada passo do caminho da crise, o governo de Pyongyang ultrapassou cuidadosamente limites antes impensáveis, mas aparentemente com poucas conseqüências. O anúncio da Coréia do Norte na quinta-feira de que tinha armas nucleares e estava se retirando das negociações sobre seu programa nuclear mais uma vez intensificou o impasse. Mas parece improvável que isso leve os EUA e seus aliados a tomar atitudes drásticas, disseram analistas e altos funcionários.

Realmente, a declaração da Coréia do Norte tem menos a ver com bombas nucleares - pois geralmente as nações anunciam que entraram no clube nuclear conduzindo um teste bem-sucedido - e mais como uma jogada diplomática calculada para ganhar uma nova vantagem no debate sobre suas ambições nucleares.

A resistência regional a qualquer ataque militar aumentou no ano passado e, dizem os analistas, para muitos da região a idéia de uma Coréia do Norte nuclear simplesmente não é tão chocante como já foi.

Isso tem limitado a força de Washington, e Pyongyang parece estar tentando forçar Washington a melhorar sua oferta.

A Coréia do Norte quer bilhões de dólares em energia, ajuda econômica e empréstimos para, em troca, abrir mão de suas ambições nucleares. Os Estados Unidos têm insistido em não dar à Coréia do Norte nenhuma recompensa antes que o país revele por completo seu programa nuclear e permita uma verificação independente do seu relatório dentro de três meses - e isso é só o começo do que pode vir depois.

Enquanto os Estados Unidos receberam a adesão nas conversações de quatro vizinhos da Coréia do Norte, a unidade entre as cinco nações que estão lidando com a Coréia do Norte tem sido instável. Particularmente a China e a Coréia do Sul têm reclamado que o governo Bush não tem mostrado flexibilidade suficiente. Ainda na semana passada, Washington enviou duas autoridades-chave à Ásia para reforçar sua posição, exibindo o que alega serem novas informações mostrando transações entre a Coréia do Norte e a Líbia.

Mas a China, anfitriã das negociações entre as seis partes, que também incluem a Rússia e o Japão, parece ávida para evitar sanções econômicas ou outras medidas que possam resultar num colapso da Coréia do Norte, uma coisa que potencialmente poderá fazer com que milhões de refugiados cruzem a fronteira com a China. Na Coréia do Sul, o partido governante enfrenta uma eleição difícil em abril e está discutindo uma possível conferência de cúpula entre presidentes em Pyongyang para respaldar suas perspectivas eleitorais.

Nos Estados Unidos, a declaração da Coréia do Norte parece destinada a reabrir um debate interno no governo, que no primeiro mandato de Bush estava fortemente dividido sobre a política para a Coréia do Norte. Ainda na quarta-feira, funcionários americanos confidenciaram a membros do Congresso que as conversações, cuja última rodada foi em junho, recomeçariam no início de março. Alguns defensores de uma abordagem diplomática discreta estavam convencidos de que prevaleceriam no debate interno.

"Isto (a declaração de Pyongyang) vai facilitar nosso trabalho", disse um funcionário que defende uma aproximação mais dura. "A Coréia do Norte está dando força aos linhas-duras que zombam do diálogo."