Título: Países pedem retomada de diálogo
Autor: Reuters e Associated Press
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2005, Internacional, p. A16

China, Japão, Alemanha e Rússia estão entre os que defendem o diálogo entre seis paíse como solução para crise nuclear norte-coreana SEUL - Países de várias partes exortaram ontem a Coréia do Norte a retomar as negociações para encerrar seu programa nuclear, após Pyonyang anunciar quinta-feira que possuía armas atômicas e estava abandonando as conversações sobre desarmamento que vinham sendo realizadas entre as duas Coréias (Norte e Sul), EUA, Japão, Rússia e China. Alguns analistas dizem que o dramático anúncio da Coréia do Norte é uma perigosa tática de negociação com o objetivo de obter mais concessões. "A avaliação é que a Coréia do Norte pode estar tentando aumentar seu cacife", disse o vice-chanceler sul-coreano, Lee Tae-shik. "Mas isso pode tornar-se um problema muito sério se a Coréia do Norte der passos adicionais."

China, Japão, Coréia do Sul, Rússia e Alemanha foram alguns dos países que pediram o retorno à mesa de negociações. O chanceler russo, Serguei Lavrov, disse que seu país espera a retomada das conversações em futuro próximo, mas no mesmo formato das anteriores, isto é, com a participação da Coréia do Norte e dos outros cinco países.

O primeiro-ministro japonês, Junichiro Koizumi, disse ontem que a crise tem de ter uma solução pacífica e manifestou cautela sobre qualquer imposição de sanções que, segundo Pyongyang advertiu, seria tomada como uma declaração de guerra.

"Acho que o Japão precisa persistentemente convencer a Coréia do Norte de que seriam mais benéficas as conversações entre seis países e o fim de seus programas nucleares", disse o primeiro-ministro do Japão, um dos países ameaçados pela Coréia do Norte.

Na linha de fogo de Pyongyang está a Coréia do Sul, sob constante ameaça de seu vizinho do norte que mantém cerca de 70% de seu Exército de 1,2 milhão de homens ao longo de sua fronteira, justamente 65 quilômetros ao norte da capital sul-coreana, Seul.

Analistas dizem que a Coréia do Norte tem décadas de experiência de dançar tangos diplomáticos com seus aliados e inimigos para obter o que quer, deixando o restante do mundo na expectativa de qual é a real intenção do isolado regime comunista. Especialistas vêem o anúncio de quinta-feira como forma de dissuasão a uma possível invasão dos EUA e como uma tática típica da Coréia do Norte e seu caprichoso líder, Kim Jong-il.

"Até o último minuto eles mantêm sua posição obstinada, mas sabem quando têm de ceder para não romper o processo inteiro", disse Park Joun-ypung, professor de ciências políticas de uma universidade de Seul.

A Coréia do Norte provocou temores quando ameaçou deixar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) no começo dos anos 90. Então voltou atrás e assinou um acordo em 1994 em troca do fornecimento de petróleo e da construção de duas usinas nucleares de água leve. Em 2003, Pyongyang acabou deixando o TNP e reativando sua usina nuclear de Yongbyon depois que funcionários norte-coreanos admitiram que o país tinha um programa secreto de enriquecimento de urânio. O fornecimento de petróleo ao país foi suspenso.

Meses depois, a Coréia do Norte concordou em iniciar as conversações entre seis países e foram realizadas três rodadas de negociações.

"A Coréia do Norte adotou atitudes similares em momentos críticos de negociações", disse o chanceler sul-coreano, Ban Ki-moon, segundo a agência Yonhap. "Precisamos analisar a situação com calma."

"Estou certo de que há algum exagero, mesmo se (Pyongyang) tiver alguma capacidade nuclear", disse o primeiro-ministro australiano, John Howard.