Título: Família de engenheiro seqüestrado rompe silêncio
Autor: Alexandre Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2005, Internacional, p. A18

De volta ao Rio, filhos de Vasconcellos Jr. relatam angústia RIO - Dois dos três filhos do engenheiro João José Vasconcellos Jr., seqüestrado no Iraque no dia 19, apareceram ontem em público pela primeira vez desde que o pai foi levado numa emboscada perto de Beiji, no norte do Iraque, onde trabalhava numa obra da construtora Norberto Odebrecht. Rodrigo Vasconcellos, de 24 anos, e Gustavo, de 16, falaram ontem da angústia com a falta de notícias sobre o pai. A família, até agora preservada por parentes, foi levada anteontem ao condomínio onde vive o tio Luiz Henrique de Vasconcellos, no Rio. A mulher do engenheiro, Teresa, e a filha do meio, Tatiana, de 21 anos, ainda não se sentem à vontade para aparecer e não participaram da entrevista. Com a voz baixa e aparentando nervosismo, Rodrigo agradeceu a mobilização de pessoas e entidades, principalmente ligadas ao mundo árabe, pela libertação de João.

Rodrigo contou que a família soube do seqüestro no mesmo dia e preferiu isolar-se para esperar notícias longe do assédio da imprensa. "As primeiras 72 horas foram as piores. Minha mãe até hoje não consegue ver TV, ler os jornais. Tenho tentado passar calma para meus irmãos. O tempo passa lentamente, mas temos de ser fortes. É o que meu pai gostaria", afirmou. "Mesmo com a demora, nossa esperança é a mesma."

Rodrigo explicou que a família decidiu deixar o refúgio, no interior de São Paulo, para retomar atividades cotidianas como freqüentar as aulas, que recomeçam após o carnaval. "Chegamos a um ponto em que a gente precisa voltar a encarar o dia-a-dia."

Vestido de preto e com os olhos marejados, Gustavo falou pouco, mas garantiu estar preparado para enfrentar as perguntas e receber a solidariedade dos amigos do colégio particular onde estuda. "Vou enfrentar tudo com calma e esperar." Mantendo a postura sóbria que os irmãos Vasconcellos vêm demonstrando nos últimos dias no Rio e em Juiz de Fora (MG), os jovens evitaram emoções fortes em público. Rodrigo emocionou-se mais quando lembrou o último contato com o pai, na véspera do seqüestro.

A família comunicava-se diariamente com ele pela internet e uma câmera conectada ao computador. "Na tarde do dia 18, estava com minha mãe e levei a câmera para a varanda para mostrar o pôr-do-sol para ele", lembrou Rodrigo. Ele afirmou que a família tenta não associar o desfecho de outros seqüestros de estrangeiros ao caso do pai. Ao ouvir a pergunta sobre seu hábito de rezar, esboçou um breve sorriso: "Comecei, há três dias."

Os irmãos avaliaram como positiva a repercussão dos apelos gravados pelo jogador Ronaldo e por xeques brasileiros nas TVs árabes. A família mantém contatos com outras personalidades do esporte e da comunidade árabe brasileira. Em São Paulo, líderes árabes estão planejando uma manifestação em favor do engenheiro para a semana que vem, nos moldes da realizada em Juiz de Fora há 15 dias.

Luiz Henrique de Vasconcellos, engenheiro civil como o irmão, disse que o sofrimento da família é ampliado pela falta de qualquer fato novo desde a exibição dos documentos de João pelos terroristas numa TV árabe.