Título: Quem vai financiar Camilla? Eis a questão
Autor: Reuters, AFP e EFE
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2005, Internacional, p. A19

LONDRES - A decisão do príncipe Charles de casar com sua amante de longa data provavelmente é um alívio maior para a Igreja Anglicana que para a família real. Afinal de contas, a monarquia já teve sua boa parcela de adúlteros e pseudodivorciados - Henrique VIII e George IV, para lembrar apenas dois nomes - e aprendeu através dos séculos a conviver com amantes na realeza. Pouquíssimos antecessores do príncipe não tiveram um ou dois namoricos e isso nunca os impediu de assumir os títulos de chefe supremo da Igreja Anglicana e defensor da fé.

Este não será um casamento em que os títulos serão transferidos para os filhos - já que o príncipe e Camilla já passaram da idade de ter filhos. Assim, não vai afetar a sucessão ao trono.

Camilla se tornará Sua Alteza Real e princesa consorte, talvez até rainha consorte, se o marido ascender ao trono, um título até então desconhecido e sem nenhum significado constitucional particular.

No século 19, o príncipe Albert, consorte da rainha Vitória, agastou-se quando descobriu que seu título não lhe conferia nenhum papel formal nem oficial. "Sou apenas o marido e não o senhor da casa", queixou-se ele, uma condição que provavelmente não vai aborrecer Camilla, depois de anos como mera freqüentadora da realeza, sem nenhum título oficial.

O que na verdade poderá causar um frisson constitucional se a ascensão de Charles ao trono finalmente ocorrer será a regularização da situação financeira de Camilla.

O Parlamento precisa aprovar uma lei para permitir ao novo soberano ser pago, mas ainda será preciso decidir se Camilla receberá recursos do Estado para o exercício de deveres oficiais. Atualmente, Charles subsidia parte do estilo de vida dela com fundos do seus rendimentos privados provenientes do Ducado da Cornualha. Na quinta-feira, seus assessores disseram que isso continuará.

Para a Igreja Anglicana, as irregularidades na vida do príncipe têm sido uma preocupação há muitos anos, particularmente pelo fato de serem tão discutidas em público e especialmente por a igreja ser uma instituição tão autoconsciente do seu status constitucional.

Embora para o príncipe não haja problemas, já que é viúvo, Camilla não pode casar na igreja porque é uma divorciada que parece muito distante de ser a parte inocente no rompimento de seu casamento anterior.

Há alguns anos, a Igreja Anglicana modificou sua posição para permitir o casamentos religioso de divorciados desde que fossem a parte inocente nos motivos que levaram à separação, mas isso não se aplica a Charles e Camilla.