Título: Inflação não é problema, diz Skaf
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2005, Economia, p. B3

Reunido com Palocci, presidente da Fiesp assegura que não há motivos para o governo se preocupar BRASÍLIA - Para o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, não há motivos para o governo se preocupar com inflação causada pelo excesso de consumo e nem mesmo com a capacidade produtiva do País. Segundo ele, os setores da indústria cujas vendas estão relacionadas diretamente à renda dos trabalhadores, como alimentos, calçados e vestuário têm margem para expandir a produção e estão, na verdade, apreensivos com "as suas carteiras de pedidos". "Não é porque, no ano passado, 4 ou 5 setores exportadores, devido ao grande desempenho das exportações que cresceram 30%, estão operando com capacidade acima de 90% que a indústria está lotada. Os setores que dependem de renda não estão operando no limite e estão preocupados com o consumo", afirmou Skaf, depois de se encontrar com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Numa crítica às recentes altas de juros ele ressaltou ainda que "a política econômica tem de se ajustar a essa realidade".

O presidente da Fiesp esteve reunido, ontem, por quase duas horas com Palocci. O encontro - agendado segundo ele para discutir a MP 232 que corrige a tabela do Imposto de Renda (IR) e aumenta a tributação das empresas prestadoras de serviços - serviu também para fazer um balanço da situação da indústria e para ressaltar as insatisfações do empresariado com o nível da taxa de juros. "Não deixei de registrar o meu protesto com os aumentos dos juros e a preocupação com gastos públicos que têm registrado crescimento real", afirmou Skaf.

Segundo ele, a Fiesp fará um estudo sobre gastos públicos que será encaminhado ao ministro Palocci para auxiliá-lo nessa questão. "Nos últimos anos, houve um crescimento real (dos gastos públicos), além da inflação. Isso obriga aumento de carga tributária, os juros ficam elevados e mantêm o câmbio baixo que, por sua vez, tiram a competitividade dos produtos brasileiros. Tudo isso é muito nocivo", afirmou o presidente da Fiesp.

Sobre a MP 232, Skaf se disse muito satisfeito com o encontro, já que o ministro Palocci, segundo ele, deixou aberta a possibilidade de negociar pontos que os industriais são contrários. Entre esses pontos estão: a taxação de ganhos que empresas que têm participações acionárias no exterior obtêm quando há variação forte da cotação do real frente ao dólar, a retenção de imposto na fonte no agronegócio, o aumento da base de cálculo da Contribuição Social Sobre Lucro Líquido (CSLL) e do Imposto de Renda pagos pela empresas prestadoras de serviços que subiu de 32% para 40% sobre o faturamento obtido e a perda de espaço para atuação do Conselho de Contribuintes da Receita Federal.

"Esses são os pontos mais importantes que debatemos e não podemos aceitar. A reunião foi proveitosa mas não foi final", disse Skaf. Na semana que vem, ele voltará a se reunir com o ministro, desta vez com a presença dos líderes no Congresso. "O ministro se mostrou disposto a debater e isso é positivo. Sinto que as negociações vão avançar e que vamos conseguir mudanças", afirmou, se recusando a tratar possíveis mudanças como um recuo do governo. "Se colocarmos assim, isso irá virar uma disputa e isso não é uma disputa. Fizemos uma reunião para discutir interesses do País", completou.