Título: Indústria vendeu 14% mais em 2004
Autor: José Ramos
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2005, Economia, p. B4

Principais indicadores da CNI são recordistas na pesquisa iniciada em 1992, mas há indícios de desaceleração a partir do 2.º semestre BRASÍLIA - As vendas da indústria brasileira cresceram 14,29% em 2004, na comparação com 2003, segundo dados divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Além das vendas, os principais indicadores industriais levantados pela entidade são recordistas na série histórica da pesquisa, iniciada em 1992. Esse resultado confirma o desempenho excepcional já apontado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostrou crescimento de 8,3% na produção industrial do ano passado. Houve aumento de 3,49% no número de pessoas empregadas, de 6,21% nas horas trabalhadas na produção e de 9,01% nos salários líquidos reais (massa salarial). O uso da capacidade instalada atingiu 82,3%, em média, com pico de 83,1% no índice dessazonalizado de dezembro. Variações no mesmo nível só foram registradas no índice de salários de 1995 (cresceu 9,87%) e no primeiro indicador anual de capacidade instalada, em 1993 (2,94%).

Apesar desse desempenho, a CNI aponta indícios de desaceleração a partir do segundo semestre de 2004. A atividade continuou crescendo, mas em um ritmo menor, principalmente nas vendas e no uso da capacidade instalada. Segundo a CNI, essa perda de fôlego é observada melhor nos índices dessazonalizados, que excluem aumento ou queda de vendas provocados por eventos que se repetem a cada ano.

O coordenador de pesquisas da instituição, Renato da Fonseca, atribuiu o ritmo menor de crescimento ao aumento de juros promovido pelo Banco Central e à desvalorização do dólar, que reduziu o faturamento em reais das indústrias exportadoras.

Um indicativo dessa desaceleração, segundo a CNI, é o das vendas acumuladas, que até agosto estavam 17,19% acima do verificado no mesmo período de 2003. Esse crescimento caiu para 16,62% em setembro, 15,37% em outubro, 14,93% em novembro e 14,29% em dezembro.

PREOCUPAÇÃO

Fonseca informou que não há nenhum indicativo de que a valorização do real tenha afetado as exportações. A preocupação maior continua a ser com os juros, que podem afetar o consumo das famílias, responsáveis por 60% do escoamento da produção.

O ritmo do desaquecimento industrial, segundo Fonseca, dependerá do período de manutenção do ajuste da política monetária e do nível de alta dos juros nos próximos meses. O economista da CNI disse que a situação pode ficar pior se for adotada a proposta do secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, que sugeriu elevar as Taxas de Juros de Longo Prazo (TJLP) para que a Selic possa subir menos. Na avaliação de Levy, o descasamento entre as duas taxas obriga o BC a dar aumentos maiores à taxa Selic.

Para Fonseca, a medida prejudicaria ainda mais a indústria, pois muitos investimentos são vinculados à TJLP. Segundo ele, os financiamentos feitos com a TJLP não são captados no mercado, e portanto não podem receber tratamento de mercado. Apesar dessas incertezas, a CNI mantém estimativa de crescimento da produção física industrial neste ano em 5,5%. A aposta deve-se principalmente à elevação no nível do emprego nos últimos meses, que deverá dar fôlego ao consumo interno.

As tendências confirmadas pelos indicadores industriais já haviam sido antecipadas pelos resultados da Sondagem Industrial, divulgada pela CNI no início do mês. A Sondagem é uma pesquisa mais ágil, que atinge pequenas e grandes empresas, mas busca apenas avaliações subjetivas sobre o comportamento das empresas e o sentimento dos empresários. Já os indicadores refletem os dados efetivos da produção, das grandes e médias empresas, mas é feita em uma escala menor do que a do IBGE.