Título: País vai insistir no bloco Mercosul-EUA
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2005, Economia, p. B6

Tema deverá ser tratado nos dias 23 e 24 na reunião entre os co-presidentes da Alca BRASÍLIA - Na primeira tentativa de relançamento das negociações, nos próximos dias 23 e 24 em Washington, o Brasil vai novamente propor ao governo do presidente George W. Bush o início, o quanto antes, das conversas sobre um acordo de liberalização do comércio de bens e serviços entre o Mercosul e os Estados Unidos - um acerto no conhecido formado 4+1, como o que o bloco fechou com o Chile e deverá negociar com o Canadá. A nova sondagem se dará durante a reunião entre os co-presidentes da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), os embaixadores Adhemar Bahadian, do Brasil, e Peter Allgeier, dos Estados Unidos. Ontem, no Itamaraty, Bahadian explicou que a indisposição dos Estados Unidos em negociar diretamente um acerto sobre acesso a mercados de bens e serviços antes de concluído o acordo geral de direitos e obrigações da Alca não deverá ser um empecilho para que essa idéia continue a ser maturada pelos dois lados. Para ele, há possibilidades de avanços, apesar das possíveis resistências de Washington. "Quero ver se, realmente, o acordo 4+1 somente será possível depois de finalizada a negociação geral da Alca", afirmou o embaixador ao Estado.

Em princípio, a negociação entre o Mercosul e os Estados Unidos seria a "fatia" mais encorpada do processo da Alca, entendido como o resultado de um acordo geral, com regras básicas para todos os 34 países envolvidos, e de inúmeros acordos mais profundos entre os parceiros interessados em determinados temas. Tanto o Mercosul quanto os Estados Unidos saíram em disparada, nos últimos dois anos, em busca de acertos com países do Hemisfério. O Mercosul acaba de finalizar um acordo com os países andinos e deverá iniciar em breve as negociações com o Canadá e com os blocos do Caribe e da América Central.

Bahadian informou que, para o relançamento das negociações da Alca, há necessidade de os dois co-presidentes se acertarem sobre os temas relevantes, de fato, e se distanciarem das discussões técnicas, que poderão ser deixadas para outro momento e até mesmo levadas para o plenário dos 34 países. Ele afirmou que deverá propor a Allgeier que ambos tratem apenas das duas questões mais sensíveis e mais relevantes para o acordo geral - agricultura e propriedade intelectual -, que não são menos polêmicas.

Dessa forma, Bahadian espera criar um ambiente favorável para o relançamento efetivo das negociações da Alca neste ano. Em fevereiro do ano passado, as divergências surgidas entre facções formadas entre os 34 países durante a reunião da Comissão de Negociações Comerciais (CNC), em Puebla, no México, puseram o projeto em xeque. Nos meses seguintes, os co-presidentes tentaram afinar suas posições sobre os temas mais sensíveis, como forma de facilitar o consenso entre os 34 sócios.

Porém, o que conseguiram foi ainda pior: a paralisação total das conversas, em julho do ano passado.