Título: Trânsito matou 4,6% mais em SP
Autor: Cláudio VieiraRodrigo Cerqueira Cesar
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2005, Metrópole, p. C1

Em 2004, 1.355 pessoas morreram em acidentes na capital - 549 atropeladas.Dá uma média de mais de 3 mortos por dia O trânsito paulistano matou, em média, mais de 3 pessoas por dia em 2004. O número de mortos em acidentes foi 4,6% superior ao de 2003, segundo estudo divulgado ontem pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Foram notificados 1.355 óbitos, enquanto em 2003 foram 1.266. "Isso sem contar os registros subnotificados, que podem chegar a 25%", alerta o presidente da Associação de Vítimas de Trânsito, Salomão Rabinovich. É o caso, por exemplo, de pessoas que ficam dias internadas, antes de morrer. "Trata-se de uma oscilação pontual, que pode ocorrer de ano para ano. Mas o número de mortes vinha caindo desde 1995", diz o diretor de Operações da CET, Adauto Martinez Filho. As maiores vítimas continuam a ser os pedestres: 549 morreram atropelados em 2004 - 91 a mais do que em 2003. Depois, vêm os motociclistas, com 407 mortes, duas a mais do que em 2003.

Os técnicos da companhia apontaram como fatores gerais que levaram às mortes a embriaguez e o excesso de velocidade dos motoristas. A Avitran anunciou que vai lançar esta semana um movimento nacional para tornar o bafômetro obrigatório no Brasil. A luta, porém, deve ser árdua, uma vez que o País assinou acordos internacionais que desobrigam qualquer pessoa de ser obrigada a colaborar para criar provas criminais contra si - como ocorre no caso do aparelho.

HABILITAÇÃO

Segundo os especialistas em trânsito, os acidentes que provocam essas mortes tem três componentes: a habilitação dos motoristas não é adequada, não há preocupação com a manutenção dos veículos nem um programa preventivo para tornar as vias mais seguras. Segundo o diretor de Operações da CET, esse programa é feito. "Temos realizado campanhas periódicas e vistoriamos os pontos mais críticos, com maior número de acidentes", ressalta Martinez.

Para Rabinovich, essas campanhas não resolvem. O ideal seria a aplicação do que está no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que prevê educação para o trânsito desde o ensino fundamental ao superior. "O pedestre não sabe andar a pé, da mesma forma que o motorista não sabe dirigir", ressalta o psicólogo, que sugere em lugar de aulas de direção defensiva testes psicológicos para renovação de carta. "Há gente sem condições de guiar um veículo."

Paraplégico há três anos, depois de ser atropelado em São José do Rio Preto, ao atravessar uma rua, o ex-radialista José da Costa, de 38 anos, pede ajuda em uma cadeira de rodas no semáforo da Avenida Marquês de São Vicente, perto da Praça Luiz Carlos Mesquita, zona oeste. No local, foi atropelado outras duas vezes. "Em uma, o carro me arremessou longe. Na outra, um motoqueiro me quebrou uma costela"

SOLUÇÕES

O presidente da Avitran culpa a omissão de vários governos pela situação atual. "Eu entendo que o Estado, o Município, podem ser responsabilizados por determinadas mortes", destaca. Um exemplo: caso alguém seja vítima de um acidente em determinado local, pela falta de sinalização pode acionar o Estado. Martinez Filho diz que dos 1.300 semáforos inteligentes, só 15% funcionam na capital. "Houve sucateamento."

Ele considera que mudanças mais radicais envolvem parcerias com o Estado e participação maior do cidadão. "A CET está presente no macro, nos grandes corredores, já no micro, nas vias secundárias, o morador pode e deve sugerir soluções para os problemas. Um dos caminhos seria, por exemplo, procurar uma subprefeitura, que nos notificaria do problema."