Título: Jucá admite desgaste com denúncias, mas diz que não vai pedir demissão
Autor: Vasconcelo Quadros
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2005, Nacional, p. A4

Ministro afirma que não fez nada de errado e que acusações são levianas e irresponsáveis, feitas por adversários políticos O ministro da Previdência, Romero Jucá, garantiu ontem que não vai pedir demissão do cargo, mas admitiu que a investigação da Polícia Federal e o noticiário dos últimos dias sobre supostas irregularidades o têm desgastado politicamente. "É claro que não estou confortável." Ele afirmou que o conteúdo do dossiê de denúncias contra ele é "leviano e irresponsável" e atribuiu as acusações a adversários políticos de Roraima. "Quem acha que vai me tirar do rumo com acusações levianas e irresponsáveis está redondamente enganado. Não fiz nada de errado e não devo nada a ninguém", afirmou, em entrevista coletiva ontem. "O bandido dessa história não sou eu!", desabafou Jucá.

Acusado de participar de esquema de recebimento de propinas e oferecer garantias inexistentes para cobrir um empréstimo, Jucá participou, nas últimas 24 horas, de intensa operação política do governo como reação às denúncias apresentadas. Na noite anterior, esteve com o ministro de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, falando sobre o problema. Na manhã de ontem, se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e participou da reunião de coordenação política do governo.

Ficou decidido que Jucá daria uma entrevista coletiva para se defender das acusações e apresentaria todas as ações positivas que iniciou na Previdência. Mas o Planalto avisou que o nome de Jucá tinha de sair do noticiário envolvido com denúncias de corrupção.

Na entrevista de ontem, o ministro garantiu que ainda tem a confiança do presidente Lula e disse que recebeu a determinação de "mergulhar" nos problemas da Previdência Social.

No início da entrevista, ele tentou convencer os jornalistas que o encontro no Palácio do Planalto havia sido para discutir as metas de sua pasta, mas depois acabou contando que tratou das denúncias com o presidente e núcleo político do governo. "Não só falei sobre o assunto, como entreguei ao Planalto os documentos sobre as denúncias", disse.

Para Jucá, seu inferno termina em uma semana com a conclusão - segundo seu prognóstico - do inquérito em que a Polícia Federal apura desvio de recursos envolvendo seu nome numa gravação telefônica sobre suposta cobrança de propina discutida entre o prefeito de Cantá (RR), Paulo de Souza Peixoto, e um empreiteiro.

Jucá afirmou que as acusações, que diz terem sido requentadas pela imprensa, são temas recorrentes da política de Roraima. Ele se queixou que os veículos de comunicação vêm "amplificando e dando guarida a ataques que, pelo longo tempo de exposição, o têm desgastado". Acrescentou que os embates fazem parte da política, que nada tem a temer e pediu pressa ao Ministério Público e à Polícia Federal para concluir as investigações e, assim, livrá-lo do desgaste.

Entre os papéis entregues por Jucá ao presidente Lula estão contratos relacionados ao empréstimo que ele e seu sócio na Frangonorte, Getúlio Cruz, fizeram junto ao Banco da Amazônia (Basa) e uma certidão da Polícia Federal informando que até a data da emissão, em julho de 2004 - quando prestou depoimento à Polícia Federal, em Boa Vista -, nada havia contra ele.

O inquérito que investiga suposta cobrança de propinas em Cantá é a mais séria pendência jurídica do ministro. Se houver comprovação das suspeitas, Jucá pode ser indiciado.

O ministro disse que não sabia se as suspeitas que deram origem à investigação - a gravação em que o prefeito fala em porcentagens que ambos receberiam sobre dinheiro de emendas parlamentares destinadas a obras do município - eram em torno de uma proposta de sua autoria.

Jucá explicou que todos os parlamentares reservaram emendas individuais e coletivas para os municípios de Roraima. Afirmou que pediu ao procurador Cláudio Fonteles a quebra do sigilo de justiça decretado no inquérito, mas depois explicou que apenas o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), tem poderes para adotar a medida.

No relatório que a Polícia Federal entregará a Fonteles apontando a conclusão das investigações estará selado o destino do ministro Romero Jucá. As diligências que estão sendo feitas pelo delegado Cristian Barth apontam suposto crime de peculato e formação de quadrilha para desviar recursos federais destinados a obras públicas.