Título: Suplente de Marina Silva no Senado emprega marido dela no gabinete
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2005, Nacional, p. A5

Fábio Vaz de Lima, que recebe mais de R$ 8 mil por mês, é um dos 21 comissionados no gabinete do Sibá Machado, do PT do Acre O nepotismo defendido pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, ganhou adeptos no PT: Fábio Vaz de Lima, marido da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ocupa um dos 21 cargos em comissão no gabinete do suplente que ficou com a vaga dela no Senado, Sibá Machado (PT-AC). Ex-secretário-executivo do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), um conglomerado de quase 200 organizações não-governamentais que atuam na região, Fábio recebe um salário de R$ 8,2 mil mensais como assessor técnico no gabinete que já foi de sua mulher e hoje é ocupado pelo suplente.

A assessoria da ministra tentou calar a denúncia: disse que Marina não comentará o fato. "Foi o senador Sibá quem convidou Fábio para trabalhar no gabinete e ele tem autonomia no mandato", alegou o assessor. No Senado, Sibá confirmou a versão. "Ele veio para cá a meu convite porque, antes de ser esposo da ministra, eu já conhecia sua atuação no trabalho de organização comunitária e precisava de alguém com esse perfil", alegou.

O senador argumentou que o caso "não guarda nenhuma semelhança com nepotismo ou algo parecido". E explica a sua forma de ver as coisas: "Nepotismo seria ter alguém em meu benefício, se eu estivesse acobertando qualquer tipo de pessoa para benefício pessoal e isso eu não faço", defendeu-se. "As pessoas que trabalham comigo estão totalmente vinculadas a uma necessidade de atuação do mandato", disse.

Ontem à tarde, depois que foi procurado pelo Estado, Fábio desapareceu. Por volta das 16 horas, a recepcionista do gabinete informou que ele ainda não voltara do almoço. Às 17 horas, a informação mudou: por ser seu aniversário, Fábio não trabalharia à tarde. A terceira versão, dada pelo senador Sibá e confirmada pelo gabinete da ministra, foi que o marido-assessor tinha sido dispensando para acompanhar Marina ao Hospital Sarah Kubitschek, onde ela faz terapia de reeducação corporal.

Sibá Machado disse que, ao convidar Fábio para assessorá-lo, foi advertido pelo próprio assessor de que sua união com a ministra poderia ser criticada. "Eu lhe disse que, se isso acontecesse, a gente tinha de pensar em como refazer, mas insisti no convite pelo perfil de trabalho que ele desenvolve conosco", justificou.

O senador disse que em seu gabinete "todos fazem um pouco de tudo". E elogiou Fábio mais uma vez: "Ele é um dos caras de quem eu mais arranco o sangue aqui dentro, ele não pára, é quem faz as viagens me representando, é quem mais roda", informou.

Sibá garantiu que não se aproveita do mandato para empregar apadrinhados. "Pode vasculhar à vontade", propôs. Ele disse escolher seus auxiliares pelo talento em lidar com atividades que compõem sua atuação política.

Disse que apoiaria sem questionar uma legislação proibindo o nepotismo, embora alerte que não é de seu feitio apoiar matérias provocadas por algum tipo de denúncia ou crise. "Nepotismo é uma coisa muito ruim porque você fica naquela de favoritismo pessoal", argumentou. O senador disse que não iria generalizar, mas que acredita ser essa uma das práticas mais comuns na política brasileira, "não só no Legislativo, mas em todos os poderes".