Título: PMDB não quer defender Jucá
Autor: DORA KRAMER
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2005, Nacional, p. A6

Partido não se sente responsável pelo ministro, afilhado do presidente do Senado Se o ministro da Previdência Social, Romero Jucá, depender - como exige o presidente Luiz Inácio da Silva - da defesa do PMDB para permanecer no governo, convém desde já correr atrás de apoios porque, ao menos por enquanto, o partido não está disposto a assumir suas dores.

Por uma razão simples: a indicação de Jucá não passou pelo exame de nenhuma instância partidária. Ao contrário, a última manifestação oficial do PMDB foi em dezembro do ano passado, quando decidiu em convenção nacional que ministros e ocupantes de cargos na administração federal deveriam deixar seus postos.

Depois disso, mais recentemente a ala oposicionista do partido atendeu aos apelos do Palácio do Planalto para iniciar um diálogo, mas ficou combinado que a conversa passaria ao largo da questão dos cargos.

Com isso, o grupo integrado pelo presidente nacional do partido, Michel Temer, e os presidentes regionais de São Paulo, Orestes Quércia, e Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, pretende se desvencilhar dos chamados governistas e transferir a eles o carimbo de fisiológicos.

Pois entre esses está justamente o padrinho de Jucá, o presidente do Senado, Renan Calheiros, cuja vida os adversários não têm a menor intenção de facilitar. Se vierem a prestar alguma ajuda, o leitor por estar certo: alguma vantagem política obtiveram.

No quadro tal como está hoje, nenhuma possibilidade de Romero Jucá receber solidariedade pública de seus pares partidários que, além de não terem sido consultados sobre sua indicação, não têm a menor intenção de se associar a acusações a respeito das quais Jucá ainda não conseguiu se explicar.

E o cardápio de denúncias não é magro. Inclui denúncias de empréstimos com garantias fraudulentas, envolvimento como investigado em inquérito da Polícia Federal sobre desvio de dinheiro de emendas do Orçamento e crimes eleitorais.

Romero Jucá tem ainda problemas no quesito más companhias: em 1998 indicou o empreiteiro Fábio Monteiro - dono da Ikal, empresa que executou as obras superfaturadas do Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo - para compor chapa ao Senado com seu sócio Gilberto Cruz.

Trata-se, convenhamos, de um currículo de peso, literal e politicamente falando.

Surpreende apenas que as pessoas - aí incluídas as que dão expediente no Palácio do Planalto - imponham reparos a Romero Jucá como ministro, mas não façam as mesmas restrições quando se trata do exercício de mandato de senador.

Se o histórico dele é inconveniente para uma função, deveria sê-lo também para a outra. Ou vice-versa: se a despeito do currículo pode ser senador - receber de um partido uma legenda para disputar eleições -, com a mesma naturalidade poder-se-ia aceitá-lo nas funções de ministro.

Pela tangente

O convite do presidente Luiz Inácio da Silva ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para integrar a comitiva presidencial que vai a Roma acompanhar o funeral do papa João Paulo II foi bem recebido em princípio, mas depois começou a ser pesado e medido sob a ótica da melhor conveniência.

Há quem avalie que fica mais distinto FH agradecer e viajar à Itália em avião de carreira, integrando-se à comitiva brasileira já no Vaticano.

Dupla dinâmica

Fernando Henrique e Anthony Garotinho conversaram no fim da semana passada. Não chegaram a falar em acertos eleitorais, mas trocaram muitas e picantes impressões sobre a conjuntura.

Falaram de autoritarismo, de unificação de discurso de oposição e principalmente de segundo turno na eleição presidencial de 2006. Não firmaram compromissos, porém.

O encontro, o primeiro de uma pretendida série, foi útil para ambos melhorarem as opiniões que tinham um do outro. FH disse a um grupo que recebeu na segunda-feira à noite que arquivou todos os "preconceitos" nutridos em relação a Garotinho.

O ex-presidente está, no dizer de quem ouviu dele o relato, "encantado" com o marido da governadora Rosângela Matheus. Consta que a recíproca é verdadeira quanto à opinião de Anthony Garotinho sobre o marido da antropóloga Ruth, a quem considerava um tanto esnobe.

Papel do eleitor

Demitir 10, 20 ou 30 policiais envolvidos em crimes não resolve; há anos autoridades federais e estaduais sabem disso.

Em particular pregam a "faxina" nas polícias como preliminar indispensável para a retomada do controle da segurança pelo poder público, mas ninguém até hoje se dispôs a ir em frente no expurgo da bandidagem que dá expediente como polícia.

Isso só pode ocorrer por falta de vontade ou ausência de poder para tanto. O primeiro caso caracteriza cumplicidade e o segundo, fragilidade. Nenhum dos dois credencia ao exercício da função pública.

Se quiser mesmo - e todo mundo quer - uma providência nesse campo, convém o eleitorado começar a cobrar dos candidatos, durante as campanhas, posições e compromissos consistentes a esse respeito. Sem pressão, não vai.