Título: Presa quadrilha que fornecia armas para milícia de ruralistas
Autor: Evandro Fadel
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2005, Nacional, p. A9
Segundo PF, tenente da PM é chefe de grupo, que seria financiado por fazendeiros para desocupar áreas invadidas pelo MST Uma força-tarefa da Polícia Federal e Secretaria de Segurança Pública do Paraná prendeu ontem preventivamente oito acusados de formação de quadrilha e tráfico internacional de armas para patrulhamento em fazendas invadidas por sem-terra, para fazer desocupação forçada. Segundo a polícia, o chefe da quadrilha é o tenente-coronel Valdir Copetti Neves, que tem 29 anos na Polícia Militar e chefiava o setor de logística do Estado Maior. No governo anterior, ele era o responsável pelo cumprimento de ordens judiciais de reintegração de posse. Segundo a polícia, alguns dos presos na Operação Março Branco - em oposição ao Abril Vermelho, prometido pelo MST (Movimento dos Sem-Terra -, conseguiam se infiltrar nos acampamentos dos sem-terra e passavam informações para que as desocupações forçadas fossem planejadas. Na operação, desenvolvida em Curitiba, Ponta Grossa e Cascavel, foram cumpridos 13 mandados de busca e apreendidas 16 armas de fogo, algumas importadas.
Também foram encontrados recibos de pagamentos, fotografias, binóculos e equipamentos de radiotransmissão.
De acordo com a polícia, a quadrilha era financiada por fazendeiros ligados ao Sindicato Rural de Ponta Grossa, que pagariam cotas mensais para ter o patrulhamento de suas fazendas, além da garantia de reintegração imediata no caso de invasão. "A organização era mantida com subvenções e até fornecimento de veículos", afirmou o superintendente da Polícia Federal no Paraná, Jaber Saab. O secretário de Segurança Pública do Estado, Luiz Fernando Delazari, foi mais longe: "Ao longo das investigações vamos comprovar, mas há casos de assassinatos, de homicídios", disse Delazari.
O Sindicato Rural de Ponta Grossa informou ontem, por meio de nota oficial, que: "A afirmação manifestada em nota à imprensa, divulgada pela Polícia Federal, de que as pessoas presas são ligadas ao Sindicato Rural de Ponta Grossa não evidencia nenhuma responsabilidade por parte da instituição, tendo em vista que esta não pode impedir ações promovidas isoladamente por seus associados, ainda mais quando as desconhece", diz a nota. "É de conhecimento público, também, que em todas as ocasiões, sem exceção, a entidade tem orientado os fazendeiros a descartar qualquer hipótese de ação, violenta ou não, contra a ameaça das invasões de terras ", completa a nota.
O advogado do tenente-coronel, Cláudio Daledone Júnior, reclamou de manhã não ter conseguido conversar reservadamente com seu cliente para conhecer as circunstâncias do caso. À tarde, a caixa postal de seu telefone celular estava carregada.
No ano passado, o Movimento dos Sem-Terra (MST) acusou o tenente Valdir Neves de estar grilando uma área de 35 alqueires em Ponta Grossa, ao lado de uma fazenda da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que está ocupada pelo movimento. O MST alega que as terras são da Embrapa, enquanto Neves conseguiu na Justiça reintegração, alegando que tinha posse dois anos antes da invasão. As desavenças entre o MST e Neves são antigas. Ele é acusado pelo movimento de comandar desocupações violentas no Estado.
O presidente da Comissão Estadual de Política Fundiária da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Tarcísio Barbosa de Souza, disse ter sido surpreendido com as informações sobre a prisão do tenente-coronel e de possível envolvimento do sindicato de Ponta Grossa. "Eu não acredito nisso", afirmou.