Título: Blair desafia as pesquisas e convoca eleição para 5 de maio
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2005, Internacional, p. A12

Líder britânico tem como principais adversários a apatia do eleitorado e a desaprovação à guerra do Iraque

Reuters, EFE, DPA, AP e AFP

Depois de uma audiência de 20 minutos com a rainha Elizabeth II, o primeiro-ministro Tony Blair revelou ontem o que a imprensa qualificou ironicamente de o segredo mais mal guardado da Grã-Bretanha: ele anunciou para 5 de maio a eleição do novo Parlamento britânico, antecipando a convocação em um ano. O mandato do atual Parlamento expiraria em junho de 2006. Estas deverão ser as eleições gerais mais disputadas desde 1992, segundo indicam as pesquisas de opinião.

"Há muito em jogo", alertou Blair. "Consolidaremos a estabilidade econômica que arduamente ganhamos", prometeu. Blair que desagradou a maioria dos britânicos ao aliar-se aos EUA na guerra do Iraque e principalmente ao exagerar os motivos para ir à guerra. A rainha vai dissolver a Câmara dos Comuns (o Parlamento) segunda-feira.

Pouco antes do anúncio do pleito, Michael Howard, candidato dos conservadores, inaugurava a campanha do Partido Conservador com uma estocada em Blair, o adversário trabalhista. "Os eleitores estão cheios da retórica dele", atacou. "O primeiro-ministro está perdendo a cabeça. Os eleitores podem recompensar Blair por oito anos de promessas não cumpridas ... ou podem votar nos conservadores, que têm adotado posições e estão empenhados em fazer as coisas certas." Howard adotará na campanha temas tradicionais dos conservadores, como restrições à imigração e combate ao crime.

Já o líder da terceira força política do país, o liberal-democrata Charles Keneddy não poupou os adversários trabalhistas e conservadores e prometeu uma campanha positiva e ambiciosa. "Vamos nos concentrar na esperança, enquanto nossos adversários só oferecem o medo", destacou o líder do Partido Liberal-Democrata, único grande partido britânico que se opôs radicalmente à invasão do Iraque.

De uma forma geral, as pesquisas dão uma pequena vantagem de 2 ou 3 pontos porcentuais ao Partido Trabalhista, de Blair. É o caso de sondagens publicadas ontem pelos jornais The Times, Guardian e Independent. De acordo com as pesquisas deles, Blair teria entre 35% e 37% da preferência do eleitorado, enquanto Howard ficaria com 33% ou 35% no máximo. Já um estudo encomendado pelo Financial Times mostra o Partido Conservador com 5 pontos à frente dos trabalhistas: 39 a 34.

Para os analistas, esse será um pleito disputado voto a voto. "Blair poderá reter o poder, mas sem a folgada maioria parlamentar atual", comentou Peter Kellner, do instituto YouGov.

O Partido Trabalhista assumiu o poder na Grã-Bretanha em 1997, depois de 18 anos de hegemonia política do Partido Conservador. Blair, que aspira a um terceiro mandato, inaugurou a campanha em South Dorset (sul da Inglaterra), reduto conservador. "Nossa economia é forte, os juros e a inflação são baixos, o desemprego é escasso e a aplicação de recursos nos serviços públicos é elevada", disse ele. Sem um líder carismático para enfrentá-lo, Blair tem como principais inimigos a apatia dos eleitores e um possível voto de castigo dos eleitores trabalhistas contrários à guerra.