Título: Berlusconi se diz 'tranqüilo' com a derrota histórica
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2005, Internacional, p. A12

Sua coalizão só ganhou 2 de 13 eleições regionais, mas

primeiro-ministro diz que o resultado era previsível

Reuters, EFE, DPA, Associated Press e AFP

ROMA-O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, declarou ontem que a derrota de sua coalizão partidária nas eleições regionais de domingo e segunda-feira era previsível. "Estou tranqüilo, pois sei que tenho governado a Itália dentro de minhas possibilidades", disse o líder conservador italiano, que só obteve êxito em 2 das 13 regiões em disputa. A frente governamental controlava oito delas, com 25 milhões de eleitores. Os analistas políticos acham que Berlusconi terá de repensar sua administração se quiser manter-se no poder nas eleições gerais de 2006.

"Este é um resultado extraordinário", reagiu satisfeito o líder da coalizão de centro-esquerda, Romano Prodi. "Há uma diferença de mais de 2 milhões de votos a nosso favor", ressaltou.

Além de perder regiões-chave como Lazio (onde está Roma) e Puglia (um bastião direitista ao sul), Berlusconi amargou também uma notável queda de prestígio em âmbito nacional: a oposição centro-esquerdista derrotou a coligação conservadora por 56% a 45,1%.

"É um sinal de alarme e uma clara mensagem enviada pelos eleitores", comentou Gianfranco Fini, atual chanceler italiano e líder da ultradireitista Aliança Nacional. "O governo está politicamente debilitado e temos agora de ser realistas, humildes e sérios", acrescentou.

Para Fini, a bandeira anticomunista agitada por Berlusconi durante a campanha eleitoral mostrou-se contraproducente, sobretudo se for levado em conta que há apenas 25 anos a Itália contava com o maior partido comunista do mundo ocidental.

"Apesar de tudo, creio que podemos derrotar a coalizão de centro-esquerda nas eleições gerais do ano que vem", estimou.

A Força Itália, partido fundado por Berlusconi, obteve apenas 18,4% dos votos - o mais baixo desempenho eleitoral desde sua criação em 1994.

"Berlusconi é o chefe do governo e o líder da coalizão", lembrou o porta-voz da Aliança Nacional, Ignazio La Russa. "Se a coalizão perde, ele também perde", reconheceu.

Mas Berlusconi se disse tranqüilo e insistiu em que não se arrepende nem lamenta sua maneira de administrar o país. Cumprimentou pessoalmente os vencedores, entre os quais o novo governador da região de Lazio, Piero Marrazzo (ex-jornalista da RAI, emissora pública de rádio e TV, que dirigia um programa de defesa do cidadão).

"Os italianos votaram com o mesmo sentimento que estamos observando em outros países europeus", opinou Berlusconi, em entrevista à revista Panorama, tentando reduzir o significado da derrota.

A vitória em Puglia, com a eleição do controvertido Niki Vendola (que usa brincos de argola nas orelhas e lançou a moda na região), representa um dos maiores feitos da oposição de centro-esquerda. "O triunfo de Vendola demonstra que se pode ser orgulhosamente comunista e se pode ter tendências sexuais distintas da maioria dos italianos e assim mesmo vencer", comentou Fini, admitindo que a coalizão direitista precisa mudar de atitude.

Tudo parece indicar, no entanto, que Berlusconi manterá sua estratégia de não ouvir as queixas do aliado e favorecer a populista e xenófoba Aliança do Norte (que controla Veneza), perdendo, dessa forma, o eleitorado moderado do resto do país.