Título: Vigilantes prejudicam ação da patrulha de fronteira no Arizona
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2005, Internacional, p. A13

Voluntários acionam alarmes falsos sobre entrada de imigrantes ilegais e órgãos oficiais temem violência Voluntários que atuam desde segunda-feira na fronteira com o México, impedindo a entrada de imigrantes ilegais no Arizona, estão atrapalhando a ação da Patrulha de Fronteira americana ao dispararem sensores instalados para alertar os patrulheiros sobre possíveis intrusos, reclamam funcionários da agência. Nos últimos dias, os voluntários ativaram várias vezes os alarmes, mobilizando os agentes para responder aos falsos alertas, disse o supervisor de fronteira José Maheda.

Centenas de voluntários do chamado Projeto Minuteman - que leva o nome de um grupo de milicianos da Revolução americana - se reuniram no fim da semana passada e iniciaram patrulhas regulares na segunda-feira, em uma operação que algumas autoridades policiais e grupos de direitos civis temem que acabe resultando em ações violentas.

Muitos dos 483 voluntários registrados foram recrutados pela internet e alguns disseram que pretendem andar armados para defesa própria.

MEDO DE LATINOS

O veterano da Guerra do Vietnã James Gilchrist, responsável pelo Projeto Minuteman, disse em seu site na internet que o objetivo do grupo é "impedir que os ilegais e suas famílias cheguem a ser a população dominante nos EUA". Segundo ele, "se isso ocorrer, os latinos poderiam até mesmo chegar a ter uma grande influência na formação e no governo do país".

O veterano declarou, porém, que o grupo evitará confrontos com os imigrantes ilegais e se limitará a informar à patrulha sobre sua presença na fronteira. A Embaixada dos EUA no México disse em um comunicado que, se "algum membro desse grupo violar a lei americana, enfrentará acusações criminais e será processado".

O chefe da Patrulha de Fronteira, David Aguilar, é contra à atuação do grupo. "A fronteira é uma área perigosa, muito complexa e por essa mesma razão é importante que esse trabalho de segurança seja feito por profissionais, que são os agentes da patrulha fronteiriça e da polícia", declarou. "A possibilidade de que algo drasticamente errado ocorra é muito alta."

"Agora não temos apenas de procurar por intrusos e traficantes de drogas, mas também vigiar esses civis sem treinamento que não estão familiarizados com a área", lamentou o porta-voz da Patrulha de Fronteira, Andy Adame.

Desde que iniciaram seu trabalho, os vigilantes voluntários detectaram a entrada de 19 ilegais no Arizona, que foram presos pelos agentes de fronteira. Adame disse que o número de detenções caiu desde a chegada dos voluntários, em uma indicação de que poucas pessoas estariam tentando cruzar a fronteira. Mas ele também destacou que os militares e policiais mexicanos aparentemente estão realizando uma operação na cidade fronteiriça de Naco para reduzir as tentativas de infiltração.

Organizadores do Projeto Minuteman disseram que 18 imigrantes foram presos no domingo depois que um fazendeiro local avisou aos vigilantes voluntários perto da cidade de Palominas. Na sexta-feira, um imigrante guatemalteco chegou a um acampamento de voluntários, também em Palominas, perdido e desidratado depois de cruzar a fronteira, e foi preso.

Os voluntários tiveram sua presença limitada a 37 quilômetros do Vale de San Pedro. A idéia do projeto, segundo seus organizadores, é atrair a atenção para os problemas da fronteira entre o Arizona e o México, considerada a mais porosa dos 3.200 quilômetros fronteiriços. Dos 1,1 milhão de imigrantes ilegais pegos pela Patrulha de Fronteira no ano passado, 51% entraram nos EUA pelo Arizona.