Título: Cai o delegado que deixou de investigar
Autor: Clarissa Thomé
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2005, Metrópole, p. C3

DP de Queimados não tinha inquérito sobre grupos de extermínio; PMs suspeitos de chacina são investigados por roubos e seqüestros O chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, exonerou ontem o delegado João Luís Almeida Costa, da Delegacia de Queimados, cidade onde 12 pessoas foram assassinadas na chacina de quinta-feira. Lins afirmou que a Polícia Civil de outras áreas da Baixada vem apurando a atuação de grupos de extermínio, mas em Queimados não há um único inquérito a esse respeito. Lins não revelou maiores detalhes, mas nas Delegacias de Homicídios da Baixada e de Nova Iguaçu há investigações sobre policiais militares suspeitos de participação na chacina, que teriam cometido roubos, seqüestros e homicídios. "Todos estamos nos empenhando, trabalhando no fim de semana, e não há na delegacia qualquer investigação concreta sobre grupos de extermínio", afirmou Lins. Para o lugar do delegado exonerado, ele indicou Ademir de Oliveira, antigo titular de Duque de Caxias.

PINGENTE

A suspeita de que PMs investigados por participação na chacina cometeram outros assassinatos ganhou força ontem. Parentes da vendedora de jóias Mara Valéria Moreira, de 40 anos, desaparecida na Via Dutra há quatro meses com o filho, Enil Fagundes, de 21, reconheceram ontem um relógio e um pingente de ouro em forma de sapato que eram vendidos por ela entre os objetos apreendidos na casa do soldado Carlos Jorge Carvalho - primeiro PM apontado formalmente por testemunhas como atirador na chacina.

O marido de Mara, o ex-vereador de Nova Iguaçu pelo PMDB José Rechuen, disse que os irmãos dela, Alex e Antônio Carlos Moreira, que eram seus sócios, reconheceram extra-oficialmente as jóias. Para se certificar de que os itens eram mesmo da vendedora, a polícia fará exame grafotécnico para comparar a grafia nas etiquetas que acompanhavam as peças e a de bilhetes e cartas escritos por Mara.

Rechuen entregou o material ontem ao delegado Rômulo Vieira, da Delegacia de Homicídios da Baixada, unidade que está concentrando a apuração sobre o massacre. "É difícil de acreditar (na participação da polícia). Sempre acreditei na polícia. Entreguei o caso a eles. É revoltante", disse Rechuen.