Título: D. Cláudio passa o dia em casa, discreto, antes de embarcar
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2005, Especial, p. H1

O arcebispo de São Paulo, bem cotado nas listas de papáveis, foi o último dos cardeais do País a viajar O arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes, foi o último cardeal brasileiro a viajar para o Vaticano. Ele embarcou ontem, às 22 horas, no vôo RG 8706 da Varig, com destino a Lisboa, aonde deve chegar hoje, às 11h35. Lá, o arcebispo vai pegar ainda hoje um vôo da Alitália, às 12h30. A chegada ao Aeroporto Leonardo da Vinci, no Fiumicino, em Roma, está prevista para as 16h35. "Que eu possa eleger quem Deus quiser", disse d. Cláudio ontem no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Cumbica, Guarulhos, minutos antes de embarcar. "Apenas quero que todos nós sejamos felizes, atendendo os desejos de Deus."

Quando questionado sobre quem seria o novo arcebispo de São Paulo, ele respondeu: "Tenho muito tempo ainda. Até os 75 anos, serei eu", disse, sugerindo que não seria o cardeal eleito entre os 116 para ser papa. "Voltarei logo, vocês vão ver." D. Cláudio viajou com apenas duas malas.

O arcebispo de São Paulo fugiu de todas as perguntas relacionadas à sucessão. No máximo, respondia com meio sorriso aos jornalistas.

O bispo-auxiliar da Lapa, Benedito Beni dos Santos, esperava o cardeal no aeroporto. Depois de acompanhá-lo até o embarque, confirmou que d. Cláudio estava sereno, apenas com sintomas de resfriado. "Ele estudou um pouco sobre os mecanismos do conclave, mas teve uma rotina absolutamente normal."

DIA NORMAL

O último dia do cardeal latino-americano mais cotado pela imprensa internacional para ocupar o lugar de João Paulo II foi praticamente como outro qualquer. Como faz diariamente, acordou às 6 horas, celebrou a missa em sua capela particular às 9h45 e almoçou às 12 horas. Até as 14 horas, tirou um cochilo.

No lado de fora de sua casa, no bairro da Luz, no centro, entretanto, a movimentação de jornalistas foi grande desde as 7 horas. Em nenhum momento d. Cláudio saiu de casa. Às 14h30, recebeu crisântemos amarelos de Antônio Magalhães, presidente do Conselho de Justiça e Paz de São Paulo, ligado à arquidiocese.

Às 16h20, chegou o bispo-auxiliar de São Paulo, Pedro Luiz Stringuini. "D. Cláudio está muito tranqüilo, ainda está fazendo as malas. Falamos principalmente de assuntos ligados à arquidiocese", contou, ao sair da casa do arcebispo. "Mas vim falar que estaremos rezando por ele."

De acordo com Stringuini, apesar da torcida, não será desta vez que o Vaticano vai ter um papa latino-americano. "Aposto que seja um italiano. As coisas na Igreja não andam tão rápido como gostaríamos", disse. "D. Cláudio tem qualidades excelentes, como a preocupação com a questão missionária."

Durante a visita de 15 minutos, o bispo-auxiliar perguntou a d. Cláudio quando o veria de novo. O arcebispo de São Paulo respondeu: "Tenho a certeza de que volto logo."

D. Cláudio manteve a discrição até o fim. À tarde, a Infraero lhe procurou para saber se gostaria de ter um espaço exclusivo para dar entrevistas aos jornalistas. Ele disse não.

RESFRIADO

O arcebispo está ainda com sintomas de resfriado. À tarde, sua secretária particular, Maria Lúcia, saiu acompanhada do motorista de d. Cláudio para comprar xarope.

Os primeiros sinais começaram no sábado à tarde. No domingo, ele não foi rezar a tradicional missa das 15 horas na Arquidiocese de São Paulo para repousar.