Título: Ex-papável, d. Aloísio aposta em um italiano
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2005, Especial, p. H1

PORTO ALEGRE-O cardeal Aloísio Lorscheider acredita que o próximo papa será italiano. Recluso no retiro dos franciscanos de Porto Alegre, onde foi morar depois da aposentadoria, ele não justifica seu palpite. Diz apenas que "é uma opinião olhando a história do passado". D. Aloísio figurou nas listas dos papáveis nos conclaves que elegeram João Paulo I e João Paulo II, em 1978. Na primeira eleição teria sido o terceiro mais votado. Ele não confirma a informação e diz que nem se lembra em qual nome pode ter votado.

Com 81 anos, o cardeal não tem mais direito a voto no conclave que elegerá o sucessor de João Paulo II. Não mostra preferência por nenhum dos nomes citados pela mídia. "Torço para que encontrem o homem certo no lugar certo."

Para ele, as listas de favoritos são desperdício de tempo. "Em vez de concretizar nomes, valeria mais a pena buscar o possível futuro perfil do papa", afirma.

Na opinião do cardeal, que já dirigiu as arquidioceses de Aparecida e Fortaleza e presidiu a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o próximo papa deveria descentralizar o poder na Igreja. "Creio que João Paulo II centralizou demais", diz. "Impõe-se a vivência concreta da colegialidade episcopal."

MULHERES

Os problemas da Igreja devem resolver-se mais na base do que na cúpula, segundo o cardeal. Ele também defende a maior participação dos leigos nas decisões e revela preocupação com o papel reservado à mulher na instituição: "Neste campo, a Igreja precisa dar ao mundo o exemplo. Existe ainda muito machismo e patriarcalismo em diversas nações."

Para temas modernos, que não estavam em debate à época dos conclaves anteriores de que participou, como terapias com o uso de células-tronco e clonagem humana, d. Aloísio alinha-se com o pensamento do papa João Paulo II e diz que a Igreja deve ser mais ouvida. "Não se pode, em nome da ciência, tirar a vida de quem quer que seja. A ciência deve aprofundar suas pesquisas sem prejudicar a vida humana."