Título: Na cidade natal, muita torcida e expectativa sobre a sucessão
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2005, Especial, p. H1

Família e amigos de d. Cláudio sonham com a possibilidade de ele ser papa A cidade de Montenegro, onde nasceu d. Cláudio Hummes, a pouco mais de uma hora de Porto Alegre (RS), vive dias de muito entusiasmo. Para o prefeito Percival Souza de Oliveira (PMDB), é "um momento de grande euforia". Para dona Irene Hummes, a irmã mais nova de d. Cláudio, arcebispo de São Paulo, "são dias de alegria e de ansiedade". O vigário episcopal da cidade, padre José Inácio Steffen, sente "uma alegre expectativa, mas se ele não for o escolhido, não será nenhuma frustração". Um pouco de esperança aqui, um pouco de cautela ali, o fato é que a vida dos quase 60 mil moradores de Montenegro, dos quais 60% de origem alemã, outros 35% de açorianos e 5% de italianos, não é a mesma desde o fim de semana passado. Ao ver o nome de seu mais famoso filho entre os mais cotados para suceder o papa João Paulo II, um misto de animação e cuidado - para não se decepcionar depois - tomou conta das rodinhas, das conversas nas escolas, no rádio e nos jornais. E até das crianças. Ontem,às 10 horas, a diretora Helena Bom juntou no pátio os alunos do ensino fundamental para cantar o Hino Nacional e fazer um minuto de silêncio pela morte do papa. Mas não há criança, ali, que não saiba da torcida por d. Cláudio.

Com seu punhado de grandes empresas exportadoras, mais a organizada e forte citricultura e a intensa atividade artística, agora a cidade sonha mesmo é com a possibilidade de ver d. Cláudio no trono de São Pedro. Uma pergunta domina as conversas: estará ele na cidade no dia 28 de maio, para oficiar uma missa já prometida? "Todo ano ele vem nessa época visitar a família", diz a irmã Irene. Se até lá "as coisas tiverem mudado", a visita, para alegria e orgulho geral, "ficará para outra hora".

Foi na missa da tarde de sábado que a cidade ficou sabendo, mais cedo do que muitos outros lugares do mundo, que o papa havia morrido, pois a própria Irene, irmã de d. Cláudio, foi por ele informada e passou ao padre José Inácio um bilhete com a notícia. Ele avisou os fiéis, numa frase seca. "Uma notícia: o papa acaba de falecer" - e um profundo silêncio se fez, seguido de choro.

No dia seguinte, porém, já havia quem fizesse a conta: "Entre os 116 possíveis sucessores, um é daqui". Este "daqui", porém, está à beira de causar um cisma entre Montenegro e seus vizinhos, especialmente Salvador do Sul e Brochier, que bradam alegres o nome de d. Cláudio entre seus filhos.

"É que, no passado, Montenegro era o único município de uma enorme região, dominando muitos distritos", explica o prefeito Oliveira. "Com o tempo, essas sub-regiões se emanciparam e agora querem contar sua história." Na verdade, as origens de d. Cláudio não são mistério para ninguém: ele nasceu mesmo no então distrito de Brochier (hoje, município), aos 9 meses foi com a família para Salvador do Sul e dali, já com 9 anos, seguiu para um seminário de franciscanos perto de Taquari, onde iniciou sua educação religiosa.

O vigário José Inácio faz suas contas: "Uma vantagem de d. Cláudio é que ele é conhecido. Há dois anos, em Roma, ele pregou no retiro dos cardeais. Mas tem outro fator: quando sai um papa mais velho, costuma-se nomear outro também velho, para que não fique tanto tempo". Aos 70 anos, ele acha que d. Cláudio preenche esse quesito. Satisfeito com os holofotes que se voltam para a cidade, o prefeito diz que "só o fato de ele estar na lista dos possíveis indicados já é uma bênção". E, diante da pergunta sobre como a prefeitura vai comemorar uma possível escolha pelo Colégio de Cardeais: "Se ele for eleito? Caramba, essa ficha ainda não caiu!"