Título: Lula e Chávez lançam aliança e prometem fábrica em Cuba
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2005, Nacional, p. A8

CARACAS - Ao lançarem ontem a chamada "aliança estratégica" entre Brasil e Venezuela, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez defenderam a integração da América do Sul e descartaram alternativas e modelos provenientes dos Estados Unidos e da Europa. Pouco antes de assinarem acordos que promoverão a parceria entre os governos e empresas dos dois vizinhos em 19 projetos - entre os quais a construção de uma refinaria binacional de petróleo no Nordeste do Brasil e a construção de uma fábrica de lubrificantes em Havana -, Lula e Chávez fizeram a apologia do modelo de "substituição competitiva" das importações de bens e serviços do "Norte" pelos similares sul-americanos. "Quero dizer aos empresários: vocês não devem ter medo de fazer parcerias. A solução para a economia da Venezuela e para a economia do Brasil, a solução para outras economias da América do Sul não está no Norte, não está além do oceano. Está em nossa integração, está na credibilidade que criamos entre nós mesmos" , afirmou Lula, ao discursar no Encontro Empresarial Brasil-Venezuela, organizado em paralelo à sua rápida visita a Caracas.

Falando de improviso, Lula avaliou que ambos os países entraram em uma "rota de solidez no desenvolvimento econômico" e se disse otimista com a elevação do comércio bilateral de US$ 1,664 bilhão, em 2004, para US$ 3 bilhões. Mas lembrou que o Brasil ainda precisa de um ciclo de 10 a 15 anos de crescimento constante da economia para que possa pagar a sua dívida social.

Em plena sintonia com Chávez, atacou a visão da elite política do Brasil que, em sua análise, era "capaz de olhar para a Europa sem olhar para a África, capaz de olhar para os Estados Unidos sem olhar para a Venezuela, a Guiana e o Suriname".

Chávez aproveitou a menção de Lula à necessidade de estimular o comércio entre os países sul-americanos para defender a redução dos desequilíbrios excessivos nas trocas de bens. Em um passo além, tentou convencer os empresários presentes a preferir bens da região, em detrimento de concorrentes americanos ou europeus. ACORDO

O Brasil e a Venezuela deverão assinar hoje um acordo que permitirá a venda de caças AMXT, da Embraer, para o treinamento de combate da Força Aérea Venezuelana (FAV). O valor da operação alcançará US$ 300 milhões, segundo o diretor da Embraer, Johnny Reis. Ele explicou que a venda será uma operação casada. O Brasil teria como contrapartida a transferência de tecnologia para que a Venezuela produza parte das peças para a fabricação dessas aeronaves, e também o compromisso de instalar, na Venezuela, uma linha de produção do avião agrícola Ipanema. A expectativa é que a Embraer monte no Brasil uma linha destinada à fabricação dos caças AMXT, que depois seria utilizada para a montagem de aviões da Força Aérea Brasileira. Segundo Reis, ainda não está fechado o acordo para a venda de 24 caças Super Tucano da Embraer .