Título: 'Povo venezuelano é dono de seu nariz', diz brasileiro
Autor: Denise Chrispim Marin e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2005, Nacional, p. A9

CARACAS - Além de elogiar o modelo de governo adotado por Hugo Chávez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a viagem à Venezuela para dar um discreto conselho ao colega. "Só existem divergências onde existe democracia. O povo venezuelano deu demonstração de que é dono de seu nariz, de sua consciência e de seus atos", afirmou. Chávez é acusado pela oposição venezuelana de tentar limitar a liberdade de expressão e punir os críticos de seu governo. Ciente do momento conturbado que seu companheiro enfrenta nas áreas diplomática e interna, Lula usou o seu pronunciamento, no encontro empresarial Brasil-Venezuela, para dar apoio a Chávez. Parabenizou-o pela "sabedoria" com que teria solucionado um recente incidente diplomático com a Colômbia e chegou a declarar-se "orgulhoso" com o resultado do referendo popular que autorizou Chávez o concluir a segunda metade de seu mandado. Para Lula, foi o momento "mais importante da democracia do país".

SEGUNDA FASE

Lula cumpre hoje, em Georgetown a segunda etapa de sua visita de quatro dias à Venezuela, Guiana e Suriname, onde poderá verificar, de perto, os sinais de devastação provocados pelas fortes chuvas que alagaram grande parte da capital da Guiana, matando 21 pessoas. A preocupação com o risco de se contrair doenças é tão grande que kits informativos, com duas garrafas de água, serão entregues a Lula e a cada um dos integrantes de sua comitiva.

O Itamaraty alertou para que todos tivessem cuidado com ingestão de água até durante o banho ou a higiene bucal, aconselhando que seja feita com água mineral, para evitar contaminação. O Itamaraty adverte a comitiva para não comer nenhum tipo de alimento cru ou frutas com casca, e, mesmo no caso de água mineral, ela só seja consumida se tiver sido engarrafada até o dia 14 de janeiro.

Nas 24 horas que permanecerá na Guiana, Lula se reunirá com o presidente guiano, Bharrat Jagdeo, com o líder da oposição, Robert Corbin, e com a comunidade brasileira local, que apresentará três reivindicações: o fim da exigência do visto de entrada entre os dois países; livre trânsito de carros na fronteira e revisão de acordo aéreo, concedendo permissão para mais uma empresa aérea brasileira voar para a Guiana.