Título: Severino diz que decidirá sozinho ação contra Lula
Autor: Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2005, Nacional, p. A7

Ele avisa que não ouvirá presidente nem vai aceitar pressões ao avaliar pedido do PSDB BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), disse ontem que não pretende ouvir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes de decidir se abre ou não um processo de impeachment contra ele, por causa do discurso no Espírito Santo, em que mencionou suposta corrupção no governo Fernando Henrique. Severino informou que deverá tomar uma decisão até a próxima semana. "Não preciso ouvir o presidente Lula. Tenho de ouvir minha assessoria primeiro", afirmou. Ele disse que não está esperando Lula para resolver o caso e que não aceita pressões. "A decisão é do presidente da Câmara", ressaltou, acrescentando que se dedicaria, ontem, a examinar o conteúdo da representação do PSDB.

O presidente da Câmara afirmou que não vai utilizar o episódio para pressionar o governo a incluir um político de seu partido, o PP, no ministério. "Eu não cobro fatura de ninguém porque não compro mais fiado", afirmou.

Cavalcanti disse que vai seguir o que determina o regimento. "Não costumo fazer barganha e sei que o presidente também não aceita esse tipo de atividade", afirmou. Segundo ele, no PP há políticos capazes de desempenhar tranqüilamente a função de ministro. Para ele, seu partido é muito mais fiel ao governo do que o PT. "Nós estamos há dois anos apoiando o governo", disse, lembrando que há deputados do PT que não votaram com o governo. "Temos um elenco de homens extraordinários", sustentou.

De manhã, o presidente da Câmara visitou o Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde se reuniu com ministros da Corte Especial. "A presidência da Câmara dos Deputados mudou. Pensam alguns que o Poder Legislativo será subserviente ao Poder Judiciário ou ao Poder Executivo. Naquela Casa não existirá subserviência, mas sim compreensão", afirmou. Presidente do STJ, Edson Vidigal disse que é necessário um trabalho conjunto. "Temos de trabalhar juntos pois o nosso patrão é o mesmo, o povo brasileiro", afirmou.

FALTAS FEIAS

A insistência do PSDB e do PFL em abrir processo por crime de responsabilidade contra o presidente Lula foi ontem comparado a um jogo de futebol em que nem sempre as regras de boa convivência são seguidas. A comparação é do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, que apesar das pressões petistas para tirá-lo do cargo, mostrou-se bem-humorado. "É como um jogo de futebol: há faltas e jogadas que não são bonitas, mas isso a opinião pública tem de julgar", comparou Rebelo.