Título: Diretoria do Bird convoca Wolfowitz
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/03/2005, Espaço Aberto, p. A2

Num fato inédito, diretores querem entrevistar o indicado por Bush antes de elegê-lo para a presidência do Banco Mundial WASHINGTON - As reações à indicação do subsecretário da Defesa dos Estados Unidos, Paul Wolfowitz, um dos principais arquitetos da invasão americana ao Iraque, para a presidência do Banco Mundial (Bird) estão se intensificando. Ontem, a diretoria do banco informou que vai chamá-lo para uma entrevista, convite inédito na história recente da instituição. "Os diretores-executivos concordaram em realizar encontros informais nos próximos dias com o indicado pelos Estados Unidos como parte do processo de consulta", informou o Bird num comunicado. "Depois, os diretores-executivos vão se reunir em uma sessão formal para escolher o presidente, quando um anúncio oficial será feito." Wolfowitz também recebeu ontem um convite do comissário do Desenvolvimento e Ajuda Humanitária da União Européia, Louis Michel, para que exponha sua visão sobre a luta contra a pobreza e o papel do Bird. "Espero encontrar Wolfowitz em Bruxelas para ouvir suas idéias sobre o desenvolvimento, sobre os principais desafios e sobre sua visão do Bird como ator principal."

O comissário lembrou que, como "maior doador mundial" de ajuda ao desenvolvimento, a UE estabeleceu uma aliança estratégica com o Bird e ressaltou que "o banco tem um papel crucial na hora de enfrentar os desafios do desenvolvimento, uma imensa tarefa que só pode ser abordada mediante um esforço conjunto da comunidade internacional.".

Organizações não-governamentais também estão pressionando seus governos. A Eurodad pôs em seu site (www.eurodad.org) um abaixo-assinado aos chefes de governo da Europa, pedindo que eles pressionem para que Wolfowitz não seja o presidente do Bird. Segundo os organizadores do movimento, até ontem à tarde, 1.255 pessoas de 68 países já tinham assinado o pedido.

Já o site www.worldbankpresident.org, que desde janeiro acompanha a eleição para a presidência do Bird, está realizando uma pesquisa com a opinião dos internautas sobre a indicação de Wolfowitz. A grande maioria acredita que ela será um desastre para o Banco Mundial.

Diplomatas, especialistas em economia e funcionários do Bird temem que ele imponha a política externa da Casa Branca no Bird.

Wolfowitz garantiu que não vai trabalhar para os EUA, mas para uma instituição que "é multilateral por natureza". Numa entrevista publicado ontem pelo jornal francês Le Figaro, ele afirmou: "Sou consciente de que o presidente do Bird não trabalha para seu país, mas para uma instituição internacional."

E completou: "Não venho com um programa político ou uma crítica sobre o Banco Mundial. A ajuda internacional vem de vários países e agências, e é preciso coordená-la."

Segundo Wolfowitz, que disse não pretender fazer mudanças no Bird, "os países doadores precisam ser mais generosos, e um dos meios para se conseguir isso é garantir aos doadores desses países que sua ajuda está sendo distribuída de forma eficaz".

Apesar da candidatura de Wolfowitz estar provocando muitas críticas, ela já é praticamente vitoriosa, pois os EUA têm a maioria dos votos na direção do banco. Tradicionalmente, o comando do Bird fica com um americano e a do Fundo Monetário Internacional com um europeu.