Título: No Brasil, indicação de Wolfowitz preocupa
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/03/2005, Economia, p. B1

Mesmo sendo avisado com antecedência, o nome do novo presidente do Bird causou estranheza BRASÍLIA - A nomeação do secretário-adjunto de Defesa dos Estados Unidos, Paul Wolfowitz, para a presidência do Banco Mundial (Bird), esta semana, faz parte de um conjunto preocupante de indicações do governo americano para postos de destaque de organismos internacionais, na avaliação do presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Cristovam Buarque (PT-DF). Apesar de o Palácio do Planalto ter sido avisado antecipadamente da decisão do presidente George W. Bush de nomear um dos falcões de sua política externa e de segurança para o Bird, a notícia provocou estranheza no governo brasileiro.

"Temos de nos preocupar porque projetos de nosso interesse podem ser prejudicados pela orientação da nova direção do Bird", afirmou Buarque. "Mas não é apenas essa nomeação que nos preocupa, é uma série de indicações dos Estados Unidos, que apontam a pretensão do governo Bush de impor a hegemonia de uma linha político-ideológica."

Conforme explicou Buarque, duas nomeações anteriores sugerem que o governo dos EUA estaria tentando imprimir sua ideologia em organismos multilaterais.

A primeira foi a de Louise V. Oliver para a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), em fevereiro de 2004, depois de 20 anos de afastamento dos EUA dessa instituição. A segunda foi a nomeação do ex-secretário-adjunto de Estado para o Controle de Armamento e Segurança Internacional, John Bolton, mais um dos falcões de Bush, como embaixador americano na ONU.

Buarque, entretanto, advertiu que o Brasil nada pode fazer contra a indicação, da mesma forma que a comissão que preside no Senado. A rigor, compete aos EUA a indicação para a presidência do Bird, assim como cabe aos europeus a nomeação para a direção-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Segundo o senador, resta ter paciência para observar se Wolfowitz tem sensibilidade com os temas de desenvolvimento econômico e redução da pobreza.

MERCOSUL

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, apressou-se em defender as negociações de um acordo sobre acesso de bens e serviços entre o Mercosul e os Estados Unidos logo que foi informado da nomeação de Robert Portman como Representante de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês).

De Nova Délhi, Índia, o chanceler enviou ontem votos de êxito a Portman, deputado republicano de Ohio e homem de Bush na Câmara de Representantes. "Estou certo de que trabalharemos de forma construtiva sobre todos os assuntos comerciais nos planos bilateral, regional e global", disse o ministro a Portman.

E acrescentou: "Em particular, espero muito desenvolver estreita colaboração para uma conclusão bem-sucedida da Rodada Doha, no contexto da Organização Mundial do Comércio (OMC), bem como assegurar progressos nas negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), com base no marco de trabalho acordado em Miami."