Título: Reforma sindical toma chá de cadeira no Congresso
Autor: Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2005, Nacional, p. A9

Ministros e sindicalistas esperaram mais de duas horas e só foram recebidos pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti

BRASÍLIA - A discussão sobre o aumento dos salários dos deputados e senadores por pouco não transformou a solenidade oficial da entrega da reforma sindical ao Congresso Nacional num fiasco. Dois ministros - Ricardo Berzoini, do Trabalho, e Aldo Rebelo, da Coordenação Política - e mais os presidentes de quatro centrais sindicais e cinco confederações de empresários ficaram esperando pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em seu gabinete, por mais de duas horas. Ele acabou não comparecendo e o atraso provocou a ira dos sindicalistas, que vaiaram a chegada do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), ao Auditório Nereu Ramos, para onde estava marcada a cerimônia. "Eles preferem discutir o aumento do próprio salário", disse o presidente da Social Democracia Sindical, Enilson Simão de Moura, o Alemão, enquanto se dirigia para a solenidade. Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical, afirmou que o episódio era um "desrespeito aos trabalhadores", que desde o início da tarde lotavam o auditório. Berzoini não disse nada, mas era visível o seu constrangimento. As audiências foram acertadas com antecedência, com o governo se empenhando em demonstrar para os parlamentares a prioridade que a reforma tem na pauta de votações.

As vaias ao presidente da Câmara rapidamente se transformaram em aplausos quando, depois de pedir desculpas pelo atraso, Severino prometeu não poupar esforços para a aprovação do projeto, "no menor espaço de tempo possível". Severino garantiu aos sindicalistas que eles terão no presidente da Casa "um aliado na defesa dos seus direitos".

Procurando não polemizar, o ministro do Trabalho disse que nova visita seria marcada com o presidente do Senado. "Ele deve ter tido um motivo relevante para não poder comparecer."

Na entrega oficial da reforma sindical, Berzoini reconheceu que a proposta de emenda constitucional que estava sendo encaminhada não era a ideal. "Essa proposta é resultado do consenso, da transigência das partes. Todos abriram mão de um pedaço para viabilizar um projeto que pudesse chegar ao parlamento." Para ele, um dos pontos principais do projeto é a substituição do financiamento compulsório dos sindicatos por uma contribuição negociada com os trabalhadores. "Hoje o trabalhador não tem o direito de dizer que não quer contribuir."

Outro ponto importante, segundo Berzoini, é a que trata da representatividade das entidades. Ele explicou que muitos sindicatos, que hoje detêm o monopólio, não representam ninguém, mas se valem da unicidade para continuar existindo. O ministro acredita que a reforma pode ser discutida e aprovada até o fim do ano. "Podemos dar esse presente de fim de ano para o povo brasileiro."

O presidente da CUT, Luiz Marinho, avaliou como o maior ponto de atrito da proposta o que trata de garantir aos trabalhadores a representação no local de trabalho. Segundo ele, muitas entidades empresariais são contra. Paulinho disse que toda a reforma foi construída com o objetivo de fortalecer os sindicatos e a negociação coletiva: "Com o sistema que vigora hoje o sindicalismo perde força e representatividade a cada dia."